Temos inimigos na esquerda?
Se a sua resposta imediata for não, sugiro que respire com calma e analise esta questão sem paixão. Porque a resposta certa é sim, nós temos inimigos na esquerda, mesmo sendo “de esquerda”.
Estes inimigos se manifestam quando nos transformam em “persona non grata” à esquerda, por exercermos o sagrado e democrático direito de elencar críticas aos políticos que estão no poder, independente do espectro ao qual se associem pois o exercício da cidadania não pode ser circunscrito a linhas ideológicas. Compreender a relação política sob este prisma de racionalidade e lógica democrática vem sendo proibido.
A autonomia do pensamento é um bem caro, raro e perseguido historicamente no mundo, e, de modo muito particular aos nossos olhos e peles, no Brasil. Contudo, esta qualidade social possui valor por si. A partir dela, vicejam análises , estudos, buscas, que se transformam em energias capazes de colaborar para o melhoramento das relações em muitos aspectos, incluindo aqueles que elaboram benefícios coletivos.
Um país de aquiescência não é cidadão.
Precisamos da dialética contínua, para não sermos coniventes com acordos espúrios enquanto vociferamos jargões que não conseguem amalgamar teoria e prática.
Nós brasileiros precisamos criticar o presidente Lula, e perder o pudor de expressar nossas discordâncias diante dos acordos que faz, pois não elegemos um representante para lhe conceder o direito de nos silenciar.
Se a eleição fosse hoje e Lula concorresse com um bolsonarista, em que votaria? Em Lula. Mas isso não diminuiria a legitimidade da minha crítica, das nossas críticas, pois essa postura está para a democracia como a água para a sede.
Aqueles que se dizem de esquerda precisam abdicar da toga, e aprender a respeitar quem discorda, quem concebe outras maneiras de aplicar energia política, e amadurecer estas relações sem a baixeza do cancelamento e perseguições de bastidores.
Essa inimizade para com aqueles que pensam criticamente é uma séria pendência da esquerda quando se acredita no poder.
