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Maternagem da Terra

Ainda menina descobri sua força, ao ver o broto que respondia com vida, ao ver o corpo morto que com ela o coveiro cobria.

A terra atraía.

Mãe de todas as formas, galhos e espinhos lhe cobriam a face generosa antes de tudo virar paisagem única na tez ausente da cana.

Terra de quem a possuía. Cercada de arames guardava enormes frutas roxas que as vacas bravas pisavam, lá eu não ousava ir! Fartura proibida, comida privatizada.

Terra em planícies ou montanhosa sobre a qual a borboleta voava. Meus olhos seguiam, cegavam diante do futuro incerto de tudo o que nela nascia.

Chão de tantas moradias!

Terra onde a alegria atolada de lama fez a festa da infância para logo ali na esquina, acolher o sangue da pobreza derramada; derramado pelas pobres intenções dos ricos.

Terra molhada de lágrimas.

Dona dos nossos corpos é senhora das forças novas, reciclando vestes para as nossas almas, faz um livro interminável com o sussurro das árvores antigas.

Terra diva, divina mestra que toda divindade reverencia.

Canteiro farto de poesia salvadora trabalhando as energias opressoras, liberando fluidos de natureza terrenal como um emplastro amoroso na face do tempo; sombrio e temeroso tempo de histórias ruins, também submetido ao olhar complacente e desapaixonado da mãe.

Maternagem da terra.

SOBRE O AUTOR

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