Dez anos daquele grito que separou o que eu era do que me tornei, gerando quem sou!
Grito de terror! De dor! De pavor!
Meu filho estava morto. O que fazer?
Morrer!
Morri com ele em natureza morredoura e ele imortalizou comigo em amor.
Meus olhos nunca secam e minha boca fica seca de gritar em vão.
Levava para o túmulo a negação e o silêncio como selos da injustiça.
Silenciamento a preço de sangue e sonhos, em um real pesadelo,
em completa solidão!
Não teve eco o pavoroso crime!
Não causou comoção.
Na direita o gosto de sangue costumeiro
e na esquerda o temor da minha projeção.
No final tudo entre eles era interesse de poder.
Plantei você como se deita rosas em terra molhada.
Desolada e humilhada agradeci teu corpo que por 16 anos reguei
enquanto regava tua memória em lágrimas.
Prometi que continuaria sendo tua mãe e não posso medir tudo o que chorei.
Ah moça! Já se passaram dez anos! Luto tardio.
Diz quem não conhece o tempo de quem luta!
Recusei as portas da loucura que é fuga trivial
e rasguei o peito na poesia, que é agonia imortal!
Dez anos de uma luta invisibilizada, não te diz nada?
Por que a rua não conhece o nome dele, se todos os dias denuncio?
Por que você que me cobra apoio em suas causas nunca viu as minhas lágrimas?
Porque a sacanagem dessa gente é essa indignação seletiva e eletiva!
Quantos dias são necessários para somar dez anos de escritas convulsivas?
Quantos dialetos são usados para dizer de modo diferente a mesma coisa?
#Amornãomorre tenho escrito pelos quatro ventos!
Tenho assumido um lado no muro sem temor nem lamento.
Filho amado agora espírito liberto, não louvo a violência nem justifico a inglória da ausência!
Vou neste equilíbrio que amadurece o verbo,
entre ódios e rancores elencando amores!
Amor pela vida que violentaram em tua face.
Amor pela liberdade ainda que plena de saudade!
Repudio os conformados e rasgo todos os manuais de sobrevivência
porque esta é a ciência da poesia!
Minha incompreendida imunidade é tua viva eternidade
neste renascer diário que é meu viver sem ti.
Nego a hipócrita solidariedade dos fingidos silenciadores destas dores.
Dou as costas para os falsos bons olhares de quem não enxerga todos os crimes que foram cometidos
antes e depois da tua queda sobre o nosso próprio sangue.
Não, a eles não!
Dez anos de estranhamento na casa vazia
e plenitude poética na escrita que avança em ousadia.
Na denúncia que rasga o clarão de cada dia.
Na certeza de levar ao tribunal da escrita todos os assassinos!
Dez anos de resistência e resiliência e me ousam me pedir que lute!
Que lute por seus guetos, e eu dou-lhes as costas!
Que lute por dinheiro, e não olho para trás!
Que lute pelo que me autorizam e por desdém lhes fecho a alma!
Tudo em volta de nossa casa tem algo de flor
mas isso não é considerado amor.
Tudo em nosso amor tem fôlego poético
traçado em eternos encantos
e nada importa o que eles pensam sobre nós!
Dez anos de transmutação!
Eternização.
Para a capa terrena fica esta bandeira de denúncia.
Onde a vida irrompe no espaço e quebra tudo o que rompe laços
recebe filho o meu eternizado abraço de mãe!
Alexystaine Laurindo, presente!
E não importa se é apenas a minha voz quem repete isso todos os dias.
Uma resposta
Alexystaine Laurindo, presente!
Patrícia me trouxe até você e eu não sabia que também lhe haviam arrancado o filho!
Eu senti você e seu filho nas suas palavras! Eu sinto muito, Ana!