Guilherme (pai de Rui) e Renan disputaram eleição entre palavrões, gestos obscenos e (muitas) denúncias

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Guilherme venceu Renan em 1988

Rui Palmeira (PSDB) e Cícero Almeida (PMDB) estão de acordo em um ponto: dizem que as eleições para a Prefeitura em Maceió lideram em denúncias e baixarias entre os dois candidatos, principalmente no guia eleitoral e nos debates pelas TVs.

Porém, há 28 anos, a disputa pela Prefeitura em Maceió estava tecnicamente empatada e o mar de lama chegava na casa dos eleitores pela TV, num tempo em que não havia redes sociais nem internet e o brasileiro não votava em urnas eletrônicas, mas no papel.

Em 1988, Guilherme Palmeira (PFL)- pai de Rui- disputava a eleição com Renan Calheiros (PSDB) – que hoje apoia Cícero.

Na caça aos votos valia tudo: discursos com palavrões, gestos obscenos, distribuição de comida, denúncia de servidora desmaiando de fome na fila do pagamento do setor público.

Há 28 anos, o presidente do Brasil era José Sarney (PMDB). A inflação chegou a 1.037,6%, os salários dos servidores públicos alagoanos estavam atrasados.

Com a economia ruim e o racionamento de comida nos supermercados, falar mal de Sarney era quase uma obrigação- como hoje as críticas a Lula ou Dilma se espalham nos comitês de Rui e Cícero.

Renan era lançado candidato a prefeito na maior coligação do país: 10 partidos. Tinha o apoio de Fernando Collor, então governador de Alagoas.

Um mês antes da eleição, 15 de outubro, o Jornal do Brasil estampa uma pesquisa: Guilherme tinha 49% das intenções de voto; Renan, 23%.

Mendonça Neto, também candidato a prefeito, fez um desafio público a Collor: chamou para brigar na rua, aos tapas. E citou a morte do senador acreano Kairala, assassinado com bala perdida, no plenário do Senado, disparada por Arnon de Mello (pai de Collor) contra Silvestre Péricles.

Collor não respondeu. Foi às ruas pedir votos para Renan. Registra o JB, em 23 de outubro, que, em discurso na praia, o então governador conclamava a população a “ganhar esta merda”, ou seja, a Prefeitura da capital.

Eleitores exibiam o nome de Guilherme. Diz o JB que Collor respondia com “sinais obscenos com os dedos”.

Uma viúva apareceu no guia eleitoral de Guilherme. Ela havia desmaiado na fila do Ipaseal. Tinha fome. O dinheiro da pensão não saiu.

Guilherme, então, associou a situação a Collor e, por consequência, Renan Calheiros.

Calheiros respondeu no guia: a mulher havia sido paga por Guilherme para fingir o desmaio.

A campanha ficaria pior.

Em 10/11/1988, o JB trouxe pesquisa Ibope: sete dias antes da eleição, Renan tinha 37% das intenções de voto; Guilherme, 36%.

No dia 13/11/1988, o JB mostrava o que aparecia no guia de Renan: o slogan (Acorda Maceió); os cochilos de Guilherme Palmeira em plenário; atacava Sarney (que apoiava Guilherme); e Guilherme atacava Collor, para atingir Renan.

Renan dizia que Guilherme se beneficiou de dinheiro público federal; Guilherme rebateu: “Ridículo, uma piada”.

Em 14/11/1988, o JB registrou caminhões distribuindo comida em Maceió, com santinhos de Guilherme.

Quatro dias depois, 16/11/1988, o Ibope divulgava nova pesquisa: Guilherme chegou a 43% dos votos, 38%.

Três dias depois, Guilherme foi eleito por uma margem de sete mil votos sobre Renan.

Collor perdeu em Maceió, mas isso não impediu que ele fosse eleito presidente da República, um ano depois.

Em 1990, Guilherme Palmeira renunciou à Prefeitura de Maceió e foi eleito senador.

Guilherme e Renan voltaram às falas anos depois. E Guilherme até indicou um filho para trabalhar no gabinete de Renan, em Brasília.

Era Rui Palmeira.

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