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Guia de sobrevivência numa universidade, pública e no 3º lugar mais pobre

Com 104 cursos de graduação, 95% deles presenciais e um campus em Maceió com bastante espaço para ampliação, a Universidade Federal de Alagoas (Ufal) recomeça seu calendário neste segundo semestre com previsão de déficit de R$ 20 milhões para 2025.

E vamos acrescentar o fato de a maior universidade pública de Alagoas estar no 3º estado mais pobre do país, onde ¼ da população está inserida no Bolsa Família.

Há 25 anos atrás, a Ufal ocupava apenas o amplo terreno na parte alta de Maceió, alguns poucos quilômetros do Aeroporto Internacional Zumbi dos Palmares. Naquela época, a maior parte dos alunos era de classe alta ou, no máximo, classe média baixa.

Hoje os campi estão espalhados em Arapiraca, Viçosa, Penedo, Palmeira dos Índios e Sertão.

Na pandemia, 11.800 alunos em situação de vulnerabilidade. Ou seja: não tinham condição nem de pagar um plano de internet para acompanhar as aulas à distância. Um pedaço do retrato social.

E a maior parte dos alunos têm problemas de baixa visão- são 782. 264 têm alguma deficiência física e 155 tem “altas habilidades e superdotação”. Para lidar com todo este público, é preciso dinheiro. E vem o déficit projetado para 2025.

“A universidade não é uma empresa e mesmo que fosse não fecharíamos as portas porque fazemos muita economia interna. Para não prejudicar os alunos e pensando sempre neste lado social: uma universidade que está inserida numa sociedade com tantas necessidades como a alagoana”, explica o reitor Josealdo Tonholo.

Segundo os números da universidade, 142 alunos têm cegueira e 264 apresentam deficiência física (parte deles usa cadeira de rodas). Vamos usá-los como exemplo. Nenhum deles consegue percorrer o campus do Tabuleiro dos Martins de uma ponta a outra sozinhos, sem risco de queda. Porque não há orçamento suficiente para adaptar todas os equipamentos urbanos, a todos os públicos. Parece óbvio, mas a universidade que pensa, debate e procura soluções para os problemas da sociedade enfrenta o próprio desafio da falta de recursos para fechar as contas.

Não raro a Ufal ocupa o noticiário, como nesta matéria. Também em junho, quando se anunciou que a universidade precisava de R$ 36,8 milhões para não fechar as portas.

“A equipe da universidade se supera, apesar de não termos dinheiro para trabalhar”, explica o reitor Tonholo.

As universidades enfrentaram este ano uma greve de 70 dias. Além do reajuste salarial, os funcionários também expuseram os problemas herdados da era Jair Bolsonaro mas também históricos. Os cortes de verbas empurram os projetos para nuvens de incertezas.

Aliás, na era Bolsonaro, as universidades foram duramente atingidas pela navalhada. Mas o então presidente da República assumia sua antipatia pelas instituições públicas de ensino superior.

Veio o Governo Lula. E o ministério da Educação ocupado por Camilo Santana, ex-governador do Ceará, estado que acumula exemplos de sucesso na educação pública.

Este clima de vitória, porém, ainda não chegou nas universidades.

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