Governo quer limpar banco para depois vendê-lo

Eduardo Cucolo – Estadão

O governo mantém ‘esperança’ de que será possível recuperar e vender o banco Cruzeiro do Sul sem que seja necessário liquidar a instituição financeira. Por isso, escolheu uma forma de intervenção que não era usada desde 1995 – no caso do Banco Nacional -, para manter a instituição funcionando, mas com a troca dos administradores.

Outra decisão inédita anunciada pelo governo ontem, quando o Banco Central formalizou a intervenção, foi colocar o Fundo Garantidor de Crédito (FGC), uma instituição privada comandada pelos bancos, para administrar e encontrar solução para o problema. Com essas decisões, além de evitar a quebra da instituição, o governo quer isolar o socorro ao banco como questão a ser resolvida pelo setor privado, mas sob a supervisão do BC.

O Cruzeiro do Sul é o sexto banco de médio porte que sofre intervenção ou é vendido por conta de problemas financeiros desde a crise de 2008, que no Brasil teve impacto mais forte sobre as instituições menores.

O primeiro caso, também o mais emblemático, foi o do Panamericano, em 2010, com rombo de R$ 4,3 bilhões, causado por um esquema complexo de fraudes e que poderia ter levado a uma desestabilização de todo o sistema financeiro. A crise marcou também a estreia do FGC no papel de salvador de última instância do sistema financeiro.

Depois da ajuda financeira do FGC, o Grupo Silvio Santos vendeu sua parte no Panamericano para o BTG Pactual, que participou agora da tentativa de venda do Cruzeiro do Sul.

Casos separados. Apesar dessas coincidências, o governo fez questão de separar os dois casos. Desde a supervisão iniciada em março no Cruzeiro do Sul pelo BC, foram encontrados problemas como provisões inadequadas, créditos não contabilizados, descumprimento de normas e procedimentos, mas que afetam apenas as empresas do grupo e os fundos dos quais o banco é cotista.

A avaliação é que não há risco para o sistema financeiro, como havia no caso do Panamericano, que ainda por cima tinha a Caixa Econômica Federal como acionista. Além disso, conforme nota divulgada ontem pelo BC, o Cruzeiro do Sul é um banco pequeno e com participação pouco representativa no sistema.

A escolha do FGC como administrador também contribui para fortalecer o entendimento de se buscar uma solução de mercado, sem dinheiro público, como ocorreu em todos os casos anteriores desde o Panamericano.

Nesse período, três instituições em dificuldade foram vendidas. O primeiro foi o banco Matone, em março de 2011, para os controladores da JBS. No mês seguinte, o BMG comprou o Banco Schahin, também em dificuldades. Em dezembro foi a vez do Banco Prosper, comprado justamente pelo Cruzeiro do Sul.

A única instituição que entrou em processo de liquidação até agora foi o banco Morada, que sofreu intervenção em abril de 2011 e está em liquidação desde outubro. O governo avalia ainda que usou o mesmo critério em todos os casos.

A decisão de ontem deixou indisponíveis os bens de 15 ex-administradores e membros de conselho do Cruzeiro do Sul, conforme determina a lei, entre eles os ex-controladores Luis Felippe Indio da Costa e Luis Octavio Azeredo Lopes Indio da Costa. No caso Panamericano, administradores e controladores também tiveram bens bloqueados ou que foram dados como garantia do negócio.

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