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Globo inicia cirurgia para ‘separar’ Moro de Bolsonaro

Como tornar Sérgio Moro convincente?

Como mostrar ao eleitor que o presidenciável Moro tinha limitações no Ministério da Justiça e Segurança Pública para implantar sua agenda anti-corrupção- limitações que ele deveria saber que existiam?

Sérgio Moro queria ter mais poderes como ministro que o próprio presidente da República?

“Judas”, “Bolsonaro 2022”, “traidor”, “Moro com medo da milícia”, “Moro Herói” eram alguns adjetivos que circulavam pelas redes sociais, durante a entrevista do ex -ministro ao Fantástico.

Entrevista que inicia uma cirurgia complexa: separar o criador- Moro- da sua criatura- Bolsonaro, sem que o ex-ministro morra politicamente antes de 2022 e ele assuma a posição de “mito”, hoje ocupada por Bolsonaro para seus 10% , 12% de apoiadores extremamente violentos, defensores de um golpe de Estado.

Moro fala em combater a corrupção, discurso lavajatista que o alçou a ministro.

Falar de combater a corrupção é discurso antigo no Brasil. Esteve nas bases da revolução de 1930, com Getúlio Vargas derrubando a República Velha, já denunciada em 1926 pela Coluna Prestes por fraudar votos com amplo apoio dos coroneis café com leite.

Também em 1964 a corrupção estava nas falas dos generais golpistas. Tanto que os militares mudaram a Constituição para dizer que seguiam as leis.

Sérgio Moro pousou de maneira estranha na era Bolsonaro. Seus vazamentos seletivos para a imprensa contra o PT durante a campanha presidencial; o acordo fechado entre ele e Bolsonaro para virar ministro e, futuramente, alcançar uma vaga no STF.

Poucas explicações, muitas dúvidas.

Vida que segue.

Corrupção se resolve- ou se diminui- com órgãos de fiscalização ou uma justiça que funcionem.

Alguns deles:

– Sob Bolsonaro, o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) mudou de nome e saiu das mãos do então ministro Sérgio Moro, sem que ele protestasse publicamente.

– A Procuradoria Geral da República não teve eleição interna validada pelo presidente da República.
Augusto Aras correu por fora da lista tríplice e foi escolhido por Jair Bolsonaro, chefe de Moro, sem que o ministro se manifestasse.

Ilegal? Imoral? Matéria para os estudiosos do Direito.

– A Polícia Federal que, com Sérgio Moro, silenciou quanto ao funcionamento do Gabinete do Ódio, liderado por Carlos Bolsonaro, de dentro do Palácio do Planalto, onde Bolsonaro-pai despacha; PF que estranhamente mudou a versão do porteiro que citou Jair Bolsonaro no caso Marielle Franco, a vereadora assassinada junto com seu assessor, Anderson.

A família de Marielle não quer a federalização das investigações porque elas seriam assumidas pela PF, alvo, desde Sérgio Moro, de desconfiança pelos laços com os Bolsonaro e da família com as milícias do Rio.

Falando nelas: e as milícias? Por que elas continuaram a operar mesmo com Sérgio Moro ministro?

Mistérios, perguntas, questões que talvez os debates televisivos- se existirem- devem tratar e os marqueteiros do ex-ministro – a Globo em particular- preparem em detalhes para cada resposta.

Fato: Sérgio Moro não quis implantar uma agenda anti-corrupção. Simplesmente porque esta agenda não existia com Moro.

Havia o pacote anti-crime, com mudanças nas regras para prisão em segunda instância e Jair Bolsonaro insistindo no programa Arma para Todos.

Aliás, são conhecidas as opiniões de Bolsonaro sobre a ditadura militar e métodos de tortura.

Posições defendidas- porque ele nunca contestou publicamente- por Sérgio Moro.

“Besteira” e “mal entendido” foram os adjetivos usados por Moro e Bolsonaro sobre o escândalo da tortura nos presídios do Para´, envolvendo agentes federais da Força-Tarefa de Intervenção Penitenciária (FTIP).Denúncias assinadas por 17 dos 28 procuradores do Ministério Público Federal.

Denúncias que incluem “pauladas com vassouras, ataques diários com balas de borracha e spray de pimenta, empalamento pelo ânus, perfuração dos pés com pregos”.

Sérgio Moro visitou os presídios do Pará e só fez elogios aos agentes federais.

Quando milícias da Polícia Militar transformaram o Ceará em praça de guerra, com mais de 300 mortos – 26 pessoas por dia assassinadas- Sérgio Moro também fez elogios aos criminosos fardados.

Disse, na frente do governador petista Camilo Santana, que a paralisação dos militares era ilegal, mas não havia crime.

Não é estranho para quem perdoou publicamente um ministro pelo crime de caixa 2.

Coisa original.

Sérgio Moro e Jair Bolsonaro são “uma coisa só”, disse Rosângela Wolff Moro, mulher do herói da Lava Jato, sem ver separação entre o então ministro e o presidente.

Com as bandeiras carregadas por ambos, alguém duvida da futura candidata a primeira-dama?

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