Genoma revela origem surpreendente de homem do Egito Antigo

Cientistas britânicos anunciaram nesta semana a obtenção do genoma completo de um homem que viveu no Egito há aproximadamente 4.500 anos, durante o período do Antigo Império — época marcada pela construção das primeiras pirâmides. O estudo, publicado na revista Nature, representa um marco na arqueogenética africana e revela uma ancestralidade surpreendente.

O indivíduo foi encontrado em Nuwayrat, uma região ao sul do Cairo, sepultado dentro de uma grande urna cerâmica — prática funerária rara, que pode indicar prestígio social. Análises apontam que ele viveu entre os anos 2855 a.C. e 2570 a.C.

Apesar da possível distinção social, exames nos ossos sugerem que o homem era um artesão, provavelmente um oleiro. Marcas de desgaste nos braços e articulações, além de deformações nos pés, indicam uma rotina intensa de trabalho manual.

O sequenciamento do DNA revelou que cerca de 80% da ancestralidade genética do indivíduo era proveniente de populações neolíticas do norte da África, como a região onde hoje está o Marrocos. Os outros 20% apresentavam vínculos com a Mesopotâmia — atual território do Iraque. Dados isotópicos extraídos dos ossos também confirmam que ele nasceu e cresceu no próprio Egito.

Além disso, a reconstrução genética indicou que o homem tinha pele escura, olhos e cabelos castanhos.

A presença de traços mesopotâmicos surpreendeu os pesquisadores e sugere que, já naquele período remoto, havia não apenas troca de bens, mas também de pessoas entre as regiões do norte da África e do Crescente Fértil. A descoberta reforça a hipótese de uma migração precoce e complexa de populações, anterior às dinastias faraônicas mais conhecidas.

Os cientistas afirmam que o material genético recuperado é uma peça crucial para desvendar a história populacional do continente africano. Novos estudos com mais amostras poderão ajudar a compor um panorama mais amplo sobre os movimentos migratórios e as relações interculturais que moldaram as civilizações antigas do Nilo.

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