Ícone do site Repórter Nordeste

Filha de ministro da ditadura argentina vira rainha da Holanda

BBC

A Holanda passou a ter um rei pela primeira vez em mais de 100 anos e também a primeira rainha consorte na Europa nascida na América Latina.

A argentina Máxima Zorreguieta, uma economista de 41 anos, se casou há 11 anos com o então príncipe Willem-Alexander.

Willem-Alexander foi coroado nesta terça-feira primeiro rei holandês desde 1890 após a renúncia de sua mãe, a rainha Beatrix, que permaneceu no trono por 33 anos.

A nova rainha consorte caiu nas graças dos holandeses por sua simpatia, carisma e estilo emotivo.

Onze anos atrás, quando se casou com o príncipe Willem-Alexander, a economista era desconhecida no pequeno reino europeu e o fato de seu pai, Jorge Zorreguieta, ter sido ministro de Agricultura do governo ditatorial de Jorge Rafael Videla (1976-1981) na Argentina era uma mancha em sua reputação.

Mas o choro pela ausência do pai, proibido de participar da cerimônia de casamento pelas autoridades holandesas, e também da mãe, que optou por não ir sozinha, reverteu a situação drasticamente.

Sua demonstração pública de emoção foi vista com bons olhos e nos últimos anos sua popularidade chegou a ser maior do que a do marido e da própria sogra, a rainha Beatrix, que nesta terça-feira passou a coroa ao filho.

A história recente da Holanda tem reservado o trono do país às mulheres: Emma (rainha regente de 1890 a 1898), Wilhelmina (1898 a 1948), Juliana (1948 a 1980) e Beatrix (1980 a 2013).

Trajetória em comum

A trajetória da nova rainha consorte da Holanda tem pontos em comum com a da rainha Sílvia, da Suécia, nascida na Alemanha e filha de pai alemão e mãe brasileira e que residiu em São Paulo entre 1947 e 1957.

As duas têm um passado de plebeias pertencentes à elite. Máxima estudou no famoso colégio bilíngue Northlands, em um bairro nobre de Buenos Aires.

Depois de se formar em economia, em 1995, ela se mudou para Nova York, onde trabalhou em uma série de instituições financeiras, entre elas o Deutsche Bank.

Após um tempo de carreira e períodos de trabalho nos Estados Unidos e na Europa, foi apresentada a Willem-Alexander por uma amiga aristocrata durante uma viagem.

Dois anos depois, estava casada com o futuro chefe da monarquia Orange-Nassau.

Emotiva e cultural

Máxima se destacou pelo seu tom emotivo, mas também pelo interesse pela cultura local e pela rapidez com que aprendeu a falar holandês.

Em 2009, foi nomeada como representante de um programa especial das Nações Unidas para avançar o desenvolvimento inclusivo por meio do microcrédito e viajou por diversos países.

Mas ela e o marido também já foram alvos de acusações, como de haverem cometido evasão fiscal e de terem hábitos extravagantes.

Em 2011, um jornal holandês acusou os dois de evasão de impostos por meio de um paraíso fiscal. A polêmica surgiu por um projeto do casal de construir uma casa de veraneio em Moçambique – que logo foi descartado.

Monarquia holandesa

A família real holandesa é tradicionalmente informal quando comparada a outras monarquias europeias. Os príncipes costumam estudar em escolas públicas, e as cerimônias são menos pomposas.

Mas os mesmos monarcas que patinam no gelo ao lado dos súditos mantêm a casa real mais cara da Europa: de acordo com um informe divulgado em 2011, os gastos anuais dos Orange-Nassau superam os US$ 50 milhões anuais (cerca de R$ 100 milhões).

Apesar dos altos gastos da família real, 59% dos holandeses dizem confiar nos Orange-Nassau, enquanto apenas 12% demonstram confiança nos políticos, e 75% apoiam a manutenção da monarquia constitucional.

O rei e a rainha já anunciaram que por ora continuarão vivendo em Wassenaar, uma pequena cidade de 25 mil habitantes em uma das áreas mais ricas da Holanda, e que devem levar alguns anos até se mudarem para o palácio real de Bosch, em Haia.

Além disso, manterão a herdeira do trono holandês e suas irmãs na escola pública onde estudam.

Sair da versão mobile