Repórter Nordeste

Festival de Linguagem Eletrônica esquenta debate sobre conceito de game-arte

Estado de Minas

Foto:Divulgação

Quem diria, aquela famosa boquinha amarela em 8 bits – que come pastilhas em um labirinto enquanto foge de fantasmas – alcançou, guardadas as devidas proporções, o mesmo nível artístico de obras de pintores consagrados, como Vincent van Gogh, Pablo Picasso e Salvador Dalí. O Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA) incluiu, no mês passado, videogames na coleção permanente da sua área de design. Além de Pac-man, Tetris e The Sims, outros 11 títulos passaram a fazer parte do acervo. No mesmo mês, o game Journey conquistou a maioria dos prêmios da categoria de jogos na British Academy of Film and Television Arts (Bafta), instituição britânica responsável pela premiação anual de trabalhos considerados de excelência em cinema, televisão, filmes e outras mídias audiovisuais.

O que há de mais nessa escolha? Afinal, em Journey não há tiros, sangue, vilões ou mocinho no game e sim um peregrino em busca de uma montanha luminosa no meio de um deserto – uma experiência estética para além do entretenimento. Algo de novo está acontecendo no universo gamer: a preocupação com design, narrativa poética e mensagem transformando alguns títulos em obras de arte, nada menos que isso.

Mostrar essa mudança é objetivo da terceira edição do Festival de Linguagem Eletrônica (File- Games), no Centro Cultural Oi Futuro, no Rio de Janeiro (RJ). A exposição, que fica aberta até o dia 28 deste mês, traz jogos que abandonaram questões unicamente maniqueístas para focar na experiência do usuário e na estética.

Segundo Alberto Saraiva, curador de arte e tecnologia do Oi Futuro, os artistas selecionados criaram novos parâmetros para esses produtos – há questionamentos e apropriações de outras plataformas, como tablets, smartphones, projetores e sistemas de presença nas criações. “Arte é um sistema de reflexão sobre o mundo. Existe o que é só game e o que é game-arte”, destaca. Para ele, só a interação não qualifica um jogo como obra de arte. Os limites entre o puro entretenimento e os projetos dignos de ocupar galerias ainda estão sendo discutidos.

Nesse contexto, a exposição traz Starry night, de Petros Vrellis. A animação interativa baseada na obra-prima Noite estrelada, de Vincent van Gogh, brinca com a fluidez da tela. Com os dedos, o visitante pode comandar o sentido do movimento dos fluxos de cores no display do iPad. Já Xilo, premiado jogo paraibano, mostra a saga de um sertanejo nordestino com a estética da xilogravura e trilha de forró. E em De novo , Ercília, música é criada a partir da interação corporal do gamer com uma teia de elásticos.

VALE-CULTURA

Enquanto isso, os ânimos de agentes culturais se elevam diante da recusa da ministra da Cultura, Marta Suplicy, em incluir os jogos no vale-cultura, benefício complementar ao salário para utilizar com gastos de entretenimento. “Marta foi mal assessorada. Sua posição é totalmente descabida. O game, além de cultural, é educativo. Você pode exercitar a sua atenção e capacidade de resolver problemas jogando”, afirma Paula Perissinotto, uma das organizadoras do File. Em breve, a Associação Comercial, Industrial e Cultura de Games (Acigames) terá uma audiência com a ministra sobre o assunto.

O certo é que, assim como o cinema e a pintura, os jogos têm oferecido cada vez mais inquietação para o público diante de linguagens elaboradas. Assim, não seria tão exagerado considerar a possibilidade de que um desses títulos seja a nova Mona Lisa daqui a algumas décadas.

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