Falta povo na Copa

 Pedro Trengrouse- consultor da ONU/PNUD para a Copa 2014- O Globo

Antes mesmo de realizar a Copa na África do Sul, a Fifa já tinha mais receitas para 2014 que 2010. Só no ano passado, a Fifa arrecadou com a Copa de 2014 cerca de R$ 2 bilhões, e a perspectiva é de que consiga mais de R$ 8 bilhões neste ciclo de quatro anos. A Copa do Mundo de 2014 já é um sucesso para a Fifa. E para o Brasil?

Segundo o último balanço publicado pelo Governo federal, mais de 80% das obras da Copa, incluindo todos os estádios, aeroportos e empreendimentos de mobilidade urbana, ficam prontos ainda em 2013. É verdade que todo esse investimento tem grandes impactos econômicos e sociais no país, com a geração imediata de emprego e renda e a melhora da infraestrutura nacional, principalmente nas áreas de transporte, turismo e do próprio futebol enquanto atividade econômica, mas e o custo de oportunidade? Será que este mesmo investimento em outros setores teria melhores resultados?

A decisão política de sediar a Copa e abrir os cofres públicos sem dúvida levou em consideração a paixão do brasileiro por futebol. O investimento público na Copa passa de R$ 25 bilhões. Só em estádios, mais de R$ 6 bilhões. O problema é que somos 200 milhões de brasileiros para cerca de 3 milhões de ingressos, dos quais metade se destina ao mercado corporativo, e os demais são vendidos para o mundo todo.

A única forma de participação direta do povo brasileiro na Copa do Mundo de 2014 é através de eventos de exibição pública, que a Fifa chama de Fan Fests e prevê organizar apenas um por cidade-sede. É muito pouco! A Copa da Fifa não é, necessariamente, a Copa do Povo, e os eventos de exibição pública dos jogos são ferramentas importantíssimas para inclusão social e segurança pública, indispensáveis ao controle das multidões e palcos para a promoção da cultura nacional.

Carnaval, São João, réveillon, são exemplos da vocação do Brasil para reunir grande número de pessoas em praças públicas regularmente. Com o devido planejamento e o poder de mobilização do futebol no país, os eventos de exibição pública dos jogos podem ser o símbolo da Copa 2014. Em 2010, a Fifa reconheceu que a Fan Fest da Praia de Copacabana foi a melhor do mundo, reunindo 600 mil pessoas com a melhor infraestrutura de todas.

Agora mesmo, na Eurocopa, enquanto 1,4 milhão de torcedores assistiam aos jogos nos estádios, 6 milhões de pessoas festejavam nos Fan Fests. Em Varsóvia a capacidade era de 100 mil torcedores por dia, e em Kiev o show de encerramento foi de ninguém menos que Elton John, para 85 mil pessoas. Se os estádios são prioridade para a Fifa, os Fan Fests devem ser prioridade para o Poder Público, que está pagando a conta da Copa e não pode deixar o povo brasileiro de fora.

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