Exposição ao chumbo compromete crianças no mundo

A exposição infantil ao chumbo está custando US$992 bilhões anuais a países em desenvolvimento devido a reduções em QIs e de potenciais de aprendizagem, de acordo com um novo estudo publicado em 26 de junho.

O relatório de pesquisadores da New York University é o primeiro a calcular o custo econômico de crianças expostas ao chumbo na África, Ásia, América Latina e outras regiões em desenvolvimento. Os pesquisadores descobriram que, apesar de grandes reduções de exposição nos Estados Unidos e na Europa, o chumbo ainda está prejudicando cérebros e finanças em regiões mais pobres do mundo.

De acordo com um novo relatório, esse metal tóxico está tomando 1,2% do produto interno bruto do mundo inteiro.

“A exposição de crianças ao chumbo representa uma grande oportunidade perdida”, declarou o Dr. Leonardo Trasande, professor da Escola de Medicina da New York University e autor sênior do estudo publicado online em Environmental Health Perspectives. “A prevenção pode acelerar o desenvolvimento econômico, que é criticamente necessário nesses países”.

Baixos níveis de chumbo afetam o QI das crianças, sua capacidade de prestar atenção e seu desempenho escolar. O metal também já foi ligado a comportamento violento e antissocial.

Os pesquisadores descobriram que a economia da África é a mais afetada, com perdas econômicas anuais estimadas em US$137,7 bilhões, ou 4% de seu produto interno bruto – um número que representa a produção e saúde financeira de um país. Exposições provocam perdas econômicas anuais estimadas em US$142,3 bilhões na América Latina, o que é 2% de seu produto interno bruto, e de US$699,9 bilhões na Ásia, o que representa 1,88% de seu produto interno bruto.

Em comparação, perdas econômicas advindas da exposição ao chumbo foram estimadas em US$50,9 bilhões e em US$55 bilhões para Estados Unidos e Europa.

Trasande e um colega estimaram o nível de chumbo no sangue de crianças de países em desenvolvimento com menos de cinco anos de idade. Eles usaram pesquisas anteriores para determinar quantos pontos de QI os níveis de chumbo reduziriam na população, e depois em quanto seus salários seriam reduzidos.

Em muitos países, informações sobre crianças são irregulares, então os pesquisadores tiveram que estimar a exposição, o que é uma das limitações do estudo, como observa o Dr. Bruce Lanphear, professor de saúde ambiental infantil da Simon Fraser University que é um dos principais pesquisadores do mundo sobre exposição infantil ao chumbo. Ele não participou do novo estudo.

Mas os valores em dólares provavelmente são conservadores, observou Lanphear.

“Eles não observaram fatores como comportamento criminoso e problemas cardiovasculares. Eles se concentraram principalmente na capacidade intelectual das crianças”, aponta ele. “O estudo provavelmente subestima de maneira substancial o efeito do chumbo sobre o QI e o PIB (produto interno bruto)”.

A exposição ao chumbo nos Estados Unidos caiu rapidamente desde a década de 1970, principalmente devido à eliminação do chumbo na gasolina. De acordo com a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos, na década de 70, cerca de 88% das crianças com cinco ou menos anos de idade tinha níveis excessivos de chumbo no sangue (maior que 10 microgramas por decilitro de sangue),

Em 2011, aproximadamente 5,8% das crianças dos Estados Unidos tinha níveis excessivos de chumbo no sangue. A redução foi dramática ocorreu, mas os Centros para Controle e Prevenção de Doenças reduziram pela metade a tolerância ao chumbo para cinco microgramas por decilitro de sangue em outubro último, em resposta a evidências científicas cada vez mais numerosas de que níveis baixos podem prejudicar o desenvolvimento cerebral de crianças.

Tendências semelhantes ocorreram na Europa.

O consumo mundial de chumbo aumentou de aproximadamente 4,7 milhões de toneladas em 1970 para 7,1 milhões de toneladas em 2004, de acordo com um relatório de 2010 das Nações Unidas.

O aumento é, em grande parte, conduzido pela demanda por baterias de chumbo. “Só alguns países usam gasolina com chumbo, então a maioria das exposições vem de tintas com base de chumbo, da produção de baterias de chumbo e de depósitos de resíduos perigosos”, explica Trasande.

Conforme muitos países intensificam sua industrialização, alguns, particularmente na África, observaram picos na exposição ao chumbo nas últimas três ou quatro décadas. Os pesquisadores não incluíram o retardado mental leve resultante da exposição ao chumbo, que é um grande problema na África Sub-Sahariana e em partes da Ásia, aponta Ken Jaffe, presidente e diretor executivo do Instituto Internacional de Recursos Infantis, uma organização sem fins lucrativos que trabalha com problemas infantis de todo o mundo.

Jaffe também observou que é difícil estimar perdas de pontos de QI sem levar em conta o estado das escolas em alguns desses países.

“Em muitos países com alta incidência de chumbo também existem escolas ruins que podem ser altamente abusivas para as crianças”, lembra Jaffe. “Eu já vi escolas em Gana e no Zimbábue onde crianças são agredidas se derem uma resposta errada – mesmo na pré-escola. As taxas de abandono são muito altas”.

Mas, de acordo com Jaffe, como investidores se interessam cada vez mais por países em desenvolvimento, determinar um valor em dólares para a exposição ambiental poderia acelerar as mudanças.

Estudos anteriores também observaram custos econômicos da exposição ao chumbo. De acordo com um estudo de 2009, cada dólar investido em tinta com chumbo resulta em um retorno que vai de US$17 a US$220. De acordo com um estudo de 2002, realizado pelo CDC, a exposição reduzida ao chumbo nos Estados Unidos desde 1976 resultou em um benefício econômico que vai de US$110 a US$319 bilhões devido a QIs mais altos e à produtividade de trabalhadores.

“Estamos basicamente pesando a saúde de nossas crianças contra a saúde da economia”, aponta Lanphear. “Até podermos provar que proteger as crianças é custo-eficaz, não vamos fazer nada. É um jeito muito estranho da espécie agir”.

Este artigo foi originalmente publicado em Environmental Health News, uma fonte de notícias publicada por Environmental Health Sciences, uma empresa de mídia sem fins lucrativos.

Fonte: Scientific American

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