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Exportações exigem ação urgente

Robson Braga de Andrade- Correio Braziliense

Diante de um cenário global conturbado e de condições desfavoráveis de competitividade no plano interno, as indústrias brasileiras vêm perdendo terreno no comércio exterior. Em 2002, as exportações de manufaturados representavam 54,7% da nossa pauta. No ano passado, esse número caiu para 36%. Por vários motivos, isso é prejudicial ao país. Em sentido inverso, a participação dos itens básicos subiu de 28,1% para 47,8%. O fenômeno deixa as contas externas reféns da oscilação dos preços de produtos agrícolas e minérios, diminui o valor agregado na economia e dificulta a inovação e a criação de empregos de qualidade, além de impedir que a prosperidade beneficie outros setores. A situação exige ações urgentes.

As exportações de manufaturados caíram também em valores absolutos. Em 2008, quando eclodiu a crise internacional, o Brasil vendeu US$ 92,7 bilhões ao exterior, sofrendo um tombo no ano seguinte (US$ 67,3 bilhões). Em 2011, apesar de a trajetória ter se alterado, continuamos abaixo do nível anterior às turbulências, com US$ 92,3 bilhões — é provável que não nos recuperemos totalmente em 2012. Dez anos atrás, existiam quatro itens manufaturados entre os 10 mais exportados. Hoje, só há um: partes e peças para veículos. Os outros nove são básicos ou semimanufaturados, como minério de ferro, petróleo, soja, açúcar em bruto, café e frango.

No ano passado, o Brasil registrou um deficit comercial de US$ 92,5 bilhões em manufaturados. Nos primeiros sete meses de 2012, o volume exportado pelo segmento caiu 3,1%, embora o preço tenha aumentado 2,7%, segundo os dados da Funcex. No mesmo período, a quantidade vendida de básicos subiu 4,7%, mas o preço, que sofre com a queda das cotações internacionais, diminuiu 5,6%. Ou seja, o país está concentrando seus embarques em produtos básicos, que estão em baixa, em detrimento dos manufaturados, mais valorizados em todo o mundo. Isso é justamente o oposto do que deveria ser feito. Ao mesmo tempo, as importações de bens de consumo, favorecidas pelo real ainda sobrevalorizado, subiram 1,7% de janeiro a julho.

Os números não deixam margem para dúvidas. Do total dos manufaturados consumidos no país, 21,1% vêm de fora, de acordo com levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Esse é o maior valor da série histórica, iniciada em 1996 – em 2002, o coeficiente era a metade (10,5%). A parcela da produção de manufaturados destinada às vendas externas está em 15%, um nível bem inferior à máxima histórica de 18,7%, alcançada em 2005.

Os prejuízos com esse quadro são enormes. Ficamos à mercê dos humores do mercado internacional quanto aos preços das commodities, que oscilam muito. Hoje, o país vive o transtorno contra o qual diversos analistas alertaram nos últimos anos: concentrar os esforços exportadores em mercadorias de valor volátil é perigoso, pois deixa a nossas contas externas vulneráveis. Não fosse a quebra de safra da soja nos Estados Unidos por questões climáticas, o que recuperou um pouco a cotação do grão, as perspectivas brasileiras seriam piores. Apostar em itens de maior valor agregado é mais seguro, pois eles permitem a criação de empregos em quantidade e qualidade e geram um efeito multiplicador da renda, entre outros pontos positivos.

Uma economia em que as indústrias se exponham às exigências próprias da competição no exterior se torna mais dinâmica e inovadora. Empresas que veem seus contratos de exportação minguarem – pela falta de condições práticas para concorrer – têm dificuldades em refazer o caminho interrompido. Precisamos encontrar uma forma de estabilizar o câmbio num nível competitivo, melhorar as garantias do financiamento às vendas externas e acelerar a liberação dos recursos, promover acordos comerciais para favorecer a entrada dos nossos produtos em outros mercados, fortalecer a defesa comercial e aperfeiçoar a devolução dos créditos obtidos nas operações, com retorno imediato e integral dos recursos.

A agenda do comércio exterior é extensa, mas fundamental. Inclui também a redução da burocracia e medidas que favoreçam indiretamente as exportações, como a ampla desoneração da folha de pagamentos. O Brasil precisa elevar a competitividade das indústrias nacionais mediante o aprofundamento e a aceleração das iniciativas que retiram os obstáculos ao crescimento econômico vigoroso. Devemos pôr em prática o Plano Brasil Maior e aumentar o nível de concessões na infraestrutura, o que estimulará investimentos. Lutar contra os entraves ao nosso pleno desenvolvimento tem que ser uma tarefa diária.

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