Ícone do site Repórter Nordeste

Exemplo alagoano

Priscila Cruz, diretora-executiva do movimento Todos Pela Educação- O Globo

Diante de tantas notícias apontando os maus resultados da Educação brasileira, é muito comum ouvirmos que esse quadro só vai mudar quando tivermos um (ou uma) presidente da República que realmente coloque a Educação no centro da agenda nacional ou quando a sociedade e as famílias passarem a demandar mais enfaticamente Educação de qualidade, ou ainda quando um líder nos guiar rumo a uma revolução educacional. Nenhuma dessas afirmações é inteiramente falsa ou verdadeira.

De fato, sem a vontade política dos altos cargos governamentais, sem o apoio e a cobrança da população e sem lideranças da sociedade impulsionando as grandes reformas, não seremos capazes de promover um verdadeiro salto de qualidade na Educação pública do Brasil.

Entretanto, a verdadeira revolução só será possível com a participação de todos, cada um cumprindo integralmente suas responsabilidades. Estamos à espera do herói capaz de estabelecer a tão urgente e necessária Educação de qualidade para todas as crianças e jovens deste país, garantindo mais riqueza, desenvolvimento sustentável e justiça social. Mas não há um super-herói que dê conta de algo tão imenso.

A Educação se dá nas 200 mil Escolas espalhadas por todo o território brasileiro, pelo trabalho de 2 milhões de Professores em sua relação diária com 50 milhões de Alunos. Se as políticas educacionais não impactarem os processos Escolares, não chegarem às salas de aula ou não ajudarem os Professores a melhorar suas práticas, não terão cumprido sua missão. Podem começar bem- intencionadas, mas terminar sem ou com pouquíssimo resultado.

O exemplo mais emblemático é o da Matemática no Ensino médio, em que estamos há dez anos estagnados em torno da taxa de apenas 10% dos jovens com aprendizagem adequada a essa etapa. Trata-se de um resultado de mandatos sucessivos dos executivos das esferas federal, estadual e municipal e dos outros poderes, bem como da sociedade brasileira.

A grande revolução será fruto de microrrevoluções – as que ocorrem nas Escolas, com o apoio dos governos, das famílias e da sociedade.

Um ótimo exemplo é a Escola com o maior Ideb de Alagoas, que foi objeto de uma matéria deste jornal no dia 8 de julho. A Escola Municipal José de Carvalho Souza, que atende filhos de pescadores em Coruripe, município a 85 quilômetros de Maceió, tem Ideb de 6,9. Hoje a média nacional é de 4,6, e a meta para 2021 é chegar a 6.

Essa Escola faz bem-feito o simples. Não obstante atenda Alunos com renda familiar muito baixa, isso não serve de justificativa para maus resultados. Os Professores estão focados na aprendizagem dos Alunos, dão mais atenção para os que têm mais dificuldade e cooperam entre si com ações articuladas. A direção apoia os Professores e está próxima das famílias, engajando-as no processo educacional dos filhos.

O simples que funciona. Sem mágica.

Sair da versão mobile