Exclusivo: Sumiço de Bárbara Regina envolve explosão da Deic, ciúmes e estelionato

O assassinato da estudante de Contabilidade, Bárbara Regina, corre risco de entrar na lista dos casos sem solução em Alagoas. O corpo da estudante nunca apareceu. O assassino, Otávio Cardoso, sumiu sem deixar rastro. Nem a família acredita nas investigações da Polícia Civil.

Pela primeira vez, os parentes da estudante que saiu de uma boate e nunca voltou para casa autorizaram o acesso ao processo, que está sob segredo de Justiça. Nele, é possível perceber que as investigações da polícia quebraram dezenas de sigilos telefônicos, fizeram buscas em uma dezena de lugares. Há muitas perguntas sem resposta, linhas de investigação simplesmente desconsideradas.

Por exemplo: a pericia realizada no carro usado no crime encontrou sangue. Só que, no meio da análise, a sede da Divisão Especial de Investigação e Capturas (Deic)- onde o material era periciado- explodiu misteriosamente.

Uma dúvida é persistente: por que a jovem que gostava de balada, só teve dois namorados na vida e era chamada de ingênua e medrosa pelas amigas saiu da boate com um desconhecido para nunca mais aparecer?

O caso Bárbara Regina acumula mais de 400 páginas. É o crime mais rumoroso do ano passado em Alagoas, dos tantos que o Estado mais violento do Brasil já acumula. Não é difícil de entender o porquê. Bárbara, uma jovem de 21 anos, linda, ajudava a sustentar a familia trabalhando em uma concessionária de imóveis. Gostava de festas, de tirar fotos. Os parentes vivem de forma simples. A avó, Tereza de Jesus Araújo, ajuda na renda de casa vendendo roupas de banho, em um ateliê, que fica em casa.

Ela fala mais sobre o caso que a mãe, Valéria, ainda abalada com o sumiço da filha.

“Meu coração diz que ela não está mais viva”, sentencia a mãe.

A avó parece que sofreu mais e não derrama uma lágrima: “Todas as informações que a polícia tem sobre este caso fomos nós quem passamos. Queremos respostas”, disse.

Pela primeira vez, uma equipe de jornalismo teve acesso ao processo de Bárbara, que está sob segredo de Justiça. E as investigações da Polícia apontam que Bárbara havia conhecido o assassino dela em uma boate de Maceió.

Mas, a história não é simples assim.

No dia 4 de julho de 2011, Bárbara denunciou à polícia que havia sido vítima de estelionato. Seguindo orientação jurídica, não será revelado o nome completo do acusado porque o processo está em segredo de justiça. Mas, de acordo com ela mesma, Bárbara tinha um Fiat Palio, ano 2010, preto, quatro portas, placa NME 3904, de Maceió.

O carro havia sido financiado pelo banco Itaú em 60 meses, por R$ 876. Bárbara disse à polícia que pagou 12 parcelas, sobrando 48. Júlio quis comprar o carro, assumir as prestações e transferir o veículo para o nome dele.

Júlio sumiu, conforme disse Bárbara: “A partir do início de 2012 até meados do ano não mas (grafia do processo) teve contato com Júlio vindo a receber contato do Banco Itaú para que fosse solucionada a questão pois a instituição em tela também não conseguia contato com Julio vindo a receber contatos do Banco Itaú para que fosse solucionada a questão pois a instituição em tela também não conseguia contato com Júlio, momento no qual a quinze duas atrás a noticiante conseguiu contato Júlio e o mesmo informou que o carro encontrava-se em São Paulo com uma senhora que teria interesse em quitar o veículo”, disse Bárbara em depoimento.

Uma confidente de Bárbara- segundo o processo- confirma isso. Mas, mostra um detalhe novo: Bárbara tinha de depositar R$ 2.500 “para ter o veículo de volta”.

Segundo a avó de Bárbara, o veículo foi devolvido meses depois da morte da estudante, “todo acabado”. Para a polícia, a história parou por aí. Levando em conta a família, muito poderia ser esclarecido. E não foi.

Dúvidas seguem em processo

Outro ponto: Bárbara teve um relacionamento com um homem casado. Segundo os depoimentos, ela não sabia disso. E, quando descobriu, rompeu o namoro.

Mas, como dizem os depoimentos, ele não desistiu de Bárbara. E passou a procurá-la no trabalho.

O roteiro de fuga de Otávio Cardoso, segundo as investigações da Polícia:

Seis dias após o sumiço de Bárbara, o acusado na morte de Bárbara ainda estava em Alagoas.

No dia 6 de setembro- estava em Arapiraca;

Dia 7- Aracaju;

9- Salvador;

10- Jequié (Bahia);

20 a 22 de setembro- Ribeirão Preto (Paraná);

11 de outubro a 12 de outubro- Foz do Iguaçu (Paraná).

Este homem era Cícero. Uma das amigas de Bárbara contou à polícia que a esposa de Cícero, Cristiane, descobriu o relacionamento. No dia 25 de maio do ano passado, às 15 hs- conforme os depoimentos- Cristiane foi tomar satisfações no Maceió Shopping, onde havia um estande da empresa Mavel- local de trabalho de Bárbara.

“Cristiane destratou Bárbara com palavras de baixo calão”, diz um dos vários depoimentos que falam deste mesmo assunto. Um deles fala em ameaça: “Insinuar uma ameaça ao falar que iria transformar a vida da Bárbara em um inferno”.

Cícero tem passagem pela polícia. Em 5 de agosto de 2010, Cristiane disse ter sido agredida por ele, no apartamento do casal, no bairro de Jatiúca.

“Foi lesionado por seu cônjuge, o mesmo por briga de casal, a empurrou na parede e deu tapas por seu braço”, conforme o boletim de ocorrência.

O primeiro namorado de Bárbara era casado e acusado de agredir a mulher, tratada como ciumenta no processo

Antes, Cícero havia ido a polícia, mas para fazer uma denúncia: em 6 de maio de 2003, disse que o seu carro foi arrombado.

A relação entre Cícero e Bárbara chama a atenção. Encantada, ela decidiu não ouvir os conselhos da família e saiu de casa para viver o relacionamento. Depois, Bárbara voltou para casa, decepcionada, rompendo o namoro de dois anos e oito meses.

Aos 21 anos, Bárbara só teve dois relacionamentos sexuais- conforme os depoimentos das amigas e de um namorado da estudante: ele mesmo e Cícero. E, nas oitivas, é descartado que Bárbara fosse garota de programa, como chegou a ser ventilado na época das investigações.

“Bárbara era difícil”, diz o rapaz. “Bárbara era responsável”, explica, em outro ponto.

Para as amigas, Bárbara “não queria homem casado” e era uma pessoa “sem malícia e medrosa”.

“A Bárbara só teve dois namorados. E era responsável mesmo, trabalhava desde pequena”, confirma a avó.

Cícero e Cristiane eram casados há seis anos. Nos depoimentos, mostra-se que a relação dos dois enfrentava problemas. A denúncia de agressão de Cícero contra Cristiane era um deles. E Cristiane, algumas vezes, seguia o marido nos lugares, sem que ele soubesse. Ela monitorava o celular do marido.

No dia 31 de agosto do ano passado- horas antes do desaparecimento de Bárbara- Cristiane- às 21 horas, lanchava com uma amiga no pastel da Maria, no bairro da Pajuçara. E viu o carro do marido no Bar da Picanha. Ele saiu do bar e seguiu para a lanchonete Subway. Cristiane foi atrás.

Meia noite e dez: os dois se encontraram no elevador. Ela negou as ameaças a Bárbara. Admitiu a discussão com a estudante no Maceió Shopping.

Neste ponto, a investigação da polícia para.

E o foco agora passa a ser Otávio Cardoso, acusado na morte da estudante.

O itinerário da morte

Os últimos momentos de Bárbara Regina são detalhados assim:

No dia 31 de agosto, ela combinou com as amigas irem ao bar Coconut e, em seguida, à boate Le Hotel, no bairro de Ponta Verde.

Bárbara encontrou um ex-namorado (a segunda relação sexual dela, após Cícero). A estudante viu o rapaz com outra mulher e, para tentar fazer ciúmes a ele, acabou conhecendo Otávio Cardoso da Silva, que era segurança. Ele se identificou como “Tenório”, ex-vereador.

Para a polícia, Otávio decidiu sair mais cedo e ela acabou fazendo o mesmo. Imagens da câmera de segurança mostram os dois deixando a boate.

“É aí que temos dúvidas porque como é que uma pessoa deixa uma boate com um desconhecido? Eu acredito que a Bárbara tenha sido atraído para o lado de fora”, explica a avó dela.

A polícia segue a descrição: Otávio estava embriagado e, assim, “ficava violento” e “querendo arrumar confusão”. Otávio tentou manter relação sexual com Bárbara, que recusou e acabou estuprada. Era um “louco, psicopata e louco por sexo”- conforme o depoimento da namorada de Moabe Lino Balbino Júnior, incriminado por ocultar o corpo.

Otávio tentou estuprar uma mulher em Murici, há dois anos. E mais outra em Maceió. “Inclusive tentamos localizar esta pessoa, mas a família preferiu não denunciá-lo à polícia por este estupro”.

“É aí que temos dúvidas porque como é que uma pessoa deixa uma boate com um desconhecido? Eu acredito que a Bárbara tenha sido atraído para o lado de fora”, Tereza, avó de Bárbara

Otávio matou Bárbara enforcada e apunhalada (para chegar a esta conclusão, a polícia ouviu amigos de Otávio e outros acusados no crime). O corpo até hoje não foi localizado.

Um dia após o crime, Otávio estava no bairro do Farol, no posto Convem. Encontrou com Moabe Lino Balbino Júnior. O depoimento dele teve contradições. A polícia decidiu que ele teve participação no crime de ocultação de cadáver.No dia 3 de setembro, o carro que teria sido usado no crime foi lavado em um lava jato.

E Otávio, a partir daí, foi se distanciando de Maceió, em rota de fuga:

No dia 6 de setembro- estava em Arapiraca;

Dia 7- Aracaju;

9- Salvador;

10- Jequié (Bahia);

20 a 22 de setembro- Ribeirão Preto (Paraná);

11 de outubro a 12 de outubro- Foz do Iguaçu (Paraná).

Otávio sumiu, sem deixar novos rastros.

Na boate, estava um amigo de Otávio: Ítalo Bruno, acusado de ser “um dos maiores assaltantes de veículos de Maceió”- conforme as investigações. Ele também foi preso.

Treze horas após o desaparecimento de Bárbara, o celular de Bárbara registra o chip de Otávio.

O carro que teria sido usado no crime foi periciado. Marcas de sangue foram encontradas. Eram de Bárbara?

O laudo sairia no dia 10 de dezembro, da Divisão Especial de Investigação e Capturas (Deic). Atrasou. Dia 20 de dezembro: a sede da Deic explodiu em Maceió. Um crime? Uma fatalidade?Não se sabe. O laudo, até hoje, não está pronto.

“Para nós, o Otávio está morto. Ele foi a pessoa usada para retirar a Bárbara da boate. Ele matou a Bárbara a mando de alguém”.

Quem? A família espera uma resposta da polícia, aos tantos mistérios de mais um crime rumoroso.

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