Um estudo publicado em junho, no Jornal Asiático de Psiquiatria (Asian Journal of Psychiatry) procurou entender o impacto psicológico do surto do novo coronavírus entre os chineses. A pesquisa se deu com o auxílio da uma popular rede social chinesa: o WeChat.
Através do compartilhamento nesta rede, a pesquisa alcançou 1074 participantes com idades diferentes (dos 14 aos 68 anos). Foi realizado um questionário, além do uso de escalas e inventários para apreender o abalo psicológico gerado pela situação epidêmica.
Com base nos resultados, as consequências de medidas de contenção como lockdown (confinamento) aumentaram casos de ansiedade (leve 10,1%, moderada 6,0%, grave 12,9%).
Mais de um terço dos participantes mostraram diferentes medidas para depressão (leve 10,2%, moderada 17,8%, e grave 9,1%).
Estes dados também vieram acompanhados de um aumento de 29,1% no consumo de álcool, sendo o consumo considerado prejudicial 9,5% e os casos de dependência 1,6%.
No entanto, o estudo também revelou que havia variações entre resultados de acordo com a região ou província.
O gênero foi um fator relevante nos casos de usuários nocivos e dependentes no uso de álcool, sendo seis vezes mais casos entre homens do que em mulheres.
Neste estudo, não houve interação significativa entre gênero e ansiedade, depressão e bem-estar psicológico.
Porém, os grupos entre 21 e 30 anos de idade tiveram maiores níveis de depressão, ansiedade e menos bem-estar psicológico, seguido de faixa etária entre 31 e 40 anos que também obtiveram níveis relativamente maiores.
Apesar de algumas limitações no estudo referente a autoavaliação da ansiedade, depressão e bem-estar mental, os autores salientam a dificuldade de conduzir entrevistas presenciais por conta das medidas de isolamento.
Para pensar o Brasil
O que há de interessante neste estudo e que enfatiza a relevância para pensar o caso brasileiro é que conseguimos identificar a negligência estatal referente a saúde mental e a mensuração necessária dos impactos psicológicos da população para a tomada de decisões e planejamento de políticas de prevenção e tratamento.
Neste contexto de pandemia, que já soma pouco mais de 100 mil mortes, a maioria do atendimento psicológico prestado a população está ligado ao setor privado. As condições da população brasileira são não apenas mais complexas que a da China, mas podem afetar as pessoas de maneira bem mais profunda.
O fato é que não há um interesse imediato do Governo Brasileiro no sistema público de saúde mental e em dar assistência a situação de calamidade, que, sem dúvidas, é muito mais desastrosa e precária que a chinesa devido as condições histórica de desenvolvimento tecnológico e econômico.
A tendência histórica dos últimos governos do Brasil é a retirada paulatina de investimentos em saúde pública e assistência social. A iniciativa privada não consegue dar conta da soma de demandas que emergem da população, assim como a maioria da população não consegue pagar por ela.
Desde modo, urge um debate sério tanto na comunidade acadêmica como nos movimentos sociais e sociedade civil sobre os efeitos deste desafio histórico do povo brasileiro.
Saúde mental precisa ser para todos!
Saiba mais:
AHMED, M. Z. et al. Epidemic of COVID-19 in China and associeted Psychological Problems. Asian Journal os Psychiatry, vol. 51, junho, 2020. Disponível em: <https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1876201820302033>.