Repórter Nordeste

Estação Comandante Ferraz: o desafio de construir no gelo

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Zero Hora

A futura Estação Antártica Comandante Ferraz já existe no papel. O Brasil corre, agora, para materializá-la sobre o gelo.

A reconstrução da base, destruída em um incêndio em fevereiro do ano passado, avançou com a escolha do projeto arquitetônico do novo prédio. Se conseguir lançar a licitação até o final do ano, a Marinha espera concluir a obra no verão 2014-2015.

Vencedor do concurso que definiu o projeto da nova Ferraz, o escritório paranaense Estúdio 41 buscou inspiração nas estações Juan Carlos, da Espanha, e Halley, do Reino Unido. A base brasileira será erguida no mesmo local da estrutura anterior, construída em 1984, na Ilha Rei George, região da península antártica. Com capacidade para 64 pessoas, o prédio terá 19 laboratórios, sistemas inteligentes de energia e combate a incêndio, separação de resíduos sólidos e área de convivência. A construção usará fontes renováveis de energia.

Desde o mês passado, o Estúdio 41 se debruça sobre o projeto executivo da estação. Tem até outubro para entregar o detalhamento, ponto de partida da licitação que deve ser lançada até o final do ano. Poderá iniciar a obra, estimada em R$ 72 milhões, na virada de 2014.

— É um projeto inteligente e simples. A construção vai ser mais rápida do que programávamos — garante o comandante da Marinha, almirante de esquadra Julio Soares de Moura Neto.

Reerguer Ferraz desafia o Brasil a buscar tecnologia para construir em um terreno tomado por gelo, com temperaturas negativas e ventos acima dos 100 km/h, no qual só é possível trabalhar de outubro a março, no verão antártico. A missão será facilitada pelos arquitetos, que dividiram o prédio em módulos independentes, montados e testados no Brasil antes da viagem de navio até a estação provisória.

— Poderemos testar tudo em solo, como fizeram ingleses e espanhóis, o que vai minimizar as chances de erros — explica João Gabriel Cordeiro, um dos arquitetos que assinam o projeto.

Para a construção, a Marinha simpatiza com o uso de tecnologia estrangeira. Empresas de outros países poderão participar da licitação, desde que associadas a companhias brasileiras. Cientista sênior do Programa Antártico Brasileiro (Proantar), o professor Jefferson Simões defende o emprego de conhecimento do Exterior. Cita Noruega, Canadá e Alemanha como fontes de experiência em obras complexas no gelo.

— O projeto arquitetônico ficou muito bom. Agora faltar ver o conteúdo da estação — avalia Simões.

Movimentação será menor neste verão

Depois de organizar a maior Operação Antártica (Operantar) da história brasileira, a Marinha planeja uma mobilização mais enxuta. Se, na edição passada, foram usados cinco navios para conciliar pesquisa, remoção dos escombros do incêndio e a montagem da estação provisória, a futura Operantar terá foco científico.

A operação deverá mobilizar seus dois navios usuais, o Ary Rongel e o Almirante Maximiano, já que a Marinha pretende repassar o transporte marítimo de maquinário, material e operários.

— A empresa que vencer a concorrência arcará com esse custo — diz o contra-almirante Marcos Silva Rodrigues, um dos coordenadores do Proantar.

Delegado brasileiro no comitê internacional de pesquisa na Antártica, Simões confia que em até três verões a nova estação estará de portas abertas. Ele explica que a ideia é concentrar 30% das pesquisas na região de Ferraz:

— A Antártica é grande demais para ficarmos restritos à periferia. O Brasil precisa aumentar sua relevância científica na região.

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