Está difícil escrever

Está ficando difícil escrever, mas é na hora da prova que a gente insiste um tanto mais.

Sim, está difícil abordar a dor e a tirania dia após dia, quando as notícias que antes chegavam sem rosto, agora começam a trazer os nomes dos nossos amigos e pessoas conhecidas como partes das estatísticas.

Está difícil escrever sobre a luta dessa hora quando os áudios espalhados pelo zap continuam inoculando a culpa, intolerância, fundamentalismos perigosos, em tempo de pandemia, impunemente.

Mas o clarão que ofusca no fundo desse túnel se chama razão, e não é possível virar o rosto na direção da treva quando sabemos onde está a luz.

E assim, mesmo sendo muito difícil escrever, o teclado nos chama.

Porque lutamos por este território e agora que o conquistamos não devemos largá-lo a esmo, e como mulheres que escrevem, representamos muitas outras mulheres e entramos em conexão com suas verdades a partir das nossas próprias luas.

Para nós mulheres o difícil é apenas uma parte das lides, é um pedaço grande do retalho com o qual remendamos versos, construímos histórias e organizamos as rimas no incentivo ao mundo.

Está difícil mas eu escrevo, porque nunca tive o privilégio da escrita fácil e a dor rimando com amor sustentou noites em claro e palavras mal compreendidas, desrespeitadas, desprezadas.

É difícil mas as braçadas continuam.

Hora de sustentar a fé e insistir no verbo lutar!