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Espíritas e Direitos Humanos

Se quiserem de fato conhecer os nichos das dores humanas, será preciso sair dos casulos assépticos e buscar conhecer o que as tem gerado no planeta que abriga vidas criadas pela mesma lei de amor.

Assim refletindo, pensamos sobre o significado dos Direitos Humanos para a meio espírita brasileiro, majoritariamente viciado em sentir -se “bom” por doar coisas e espalhar jargões resignados aos que sofrem.

Quando militava em silêncio no pequeno núcleo celestial (aqui contém ironia) do qual fazia parte na capital de Alagoas, costumava ouvir o dirigente repetir que “humanos direitos” eram mais importantes que “Direitos Humanos”.

Estranhamente sintonizado com a classe de Ensino Médio na qual eu dava aulas naquele período, que recusava um projeto sobre Direitos Humanos a justificar que só defendiam bandidos.

Embora não concordasse com nenhum dos lados que assim se expressavam só pude entender melhor o que movia a ação quando saí da bolha de falsas virtudes para sentir o sol causticante de um mundo injusto sobre a pele real.

Não havia ainda o caldo fétido do bolsonarismo espalhando injúrias pagas com dinheiro público, mas a ideia ruim cozinhava em fogo brando, sob inúmeras máscaras de bonomia.

O que gerou a atualidade grotesca não nasceu nela.

Contudo, para o meio espírita brasileiro, que foge de política como o diabo foge da cruz – assim o dizem, seguir desconhecendo por escolha as causas das desigualdades de acesso serve apenas para amainar a consciência interna na sequência das buscas pelos humanos direitos para louvar e os necessitados de Direitos Humanos para fazer a caridade prevista, quantificada, tida como passaporte anti-obsessor.

Estaremos sempre distantes de compreender a produção desalmada de pecados capitais? Por que o meio espírita brasileiro não olha de frente para a dor social?

Temos a fome produzida por ato político planejado, e também temos grupos de espíritas fazendo vídeos em louvor de Bolsonaro.

Temos a violência letal exibindo coronhas e cartões públicos de pertença a clube de tiros, temos os índices do genocídio ocupando linhas históricas, e também temos espíritas defendendo armamento, vacinas místicas e aplaudindo Bolsonaro.

Não haverá conciliação entre as políticas de morte e a defesa dos Direitos Humanos, por essa razão o meio espírita hegemònico e tradicional seguirá desdenhando da vida em abundância, pois é nela que se alojam as vítimas da ganância e das fome de poder que os mundos assépticos fingem não saber que existem.

Um ano doloroso se finda e o Brasil perdeu mais do que ganhou.

Direitos Humanos é bandeira ensanguentada, ferida por Covid, bala estatal, desemprego, fome, racismo, misoginia, homofobia e síndromes classistas de variados tons, em estranho conluio com o globo afetado pelo retorno das ideologias tanatológicas.

Direito à vida segue bandeira rota, solitária e apesar disso, aquela que defendemos com o tempo que nos cabe nesta encarnação, por saber que o amor não compactua com a dor de tantos para o gozo de tão poucos.

E quem quiser ser útil ao mundo olhe além das bolhas e sinta o quanto aqui fora o mesmo sol que fortalece a vida queima a haste frágil, por ausência de proteção.

Seja essa dor uma oração que marca o respirar de uma resistência amada em hora tão amarga, na qual precisamos todos entender que Direitos Humanos é uma régua universal.

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