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Entrevista: O que pensa Fernando Collor, candidato a vereador por Maceió?

Fernando Affonso Lyra Collor de Mello, 41 anos. Candidato a vereador por Maceió, pelo PSB. O nome e o sobrenome resumem uma família que qualquer brasileiro ouviu falar ao menos uma vez na vida.

Fernando é filho de Pedro e Thereza Collor. Neto do usineiro João Lyra. Sobrinho do ex-presidente e ex-senador Fernando Collor.

Ele conversou com o blog. Falou sobre o acordo Braskem-Maceió; os usineiros e o Estado; disse que a Prefeitura pode arcar com transporte de graça e de qualidade aos usuários; explicou porque se filiou ao PSB mesmo sem ter tradição de esquerda; falou ainda de JHC, de Rafael Brito, Lula, da destruição de prédios públicos em Brasília em 8/1/22, Bolsonaro e sua visão sobre futuro da Gazeta de Alagoas, empresa de sua família, e a Rede Globo.

Quando você era vice-prefeito em Atalaia, seu nome era Fernando Lyra, sobrenome do seu avô. Em Maceió, candidato a vereador, trocou por Collor, lembrando do tio. Por que a mudança?

Meu nome completo é Fernando Affonso Lyra Collor de Mello, mas sempre fui conhecido como Fernando Collor. Quando fui vice-prefeito em Atalaia, usei o sobrenome Lyra porque ele tinha mais conhecimento na região na época. Agora, como candidato a vereador em Maceió, retomei o nome Collor, que é com o qual as pessoas me conhecem e com o qual me identifico. Todos os dois nomes, mantém a essência da minha história e da minha família.

Como seu pai, você também nasceu em Maceió, capital há décadas com os mesmos problemas sociais, crescimento desordenado da população, vereadores “donos” de bairros. O que falta para Maceió mudar o passado e se preparar para o futuro?

Quando você faz uma boa gestão, trabalha de verdade pelo povo, o reconhecimento vem naturalmente. O carinho das pessoas não precisa ser comprado, ele vem pelo resultado, pela confiança. O que falta em Maceió é justamente essa renovação… gestores que entendam que fazer o certo, com responsabilidade, é o que transforma a vida das pessoas.

Outros candidatos de outros partidos reclamam da falta de apoio das legendas. O PSB vem dando a atenção que você merece?

A atenção que recebo é a mesma que todo candidato merece, de acordo com os princípios e compromissos do partido.

Com o tempo, o papel da Câmara ou dos vereadores da capital parece não despertar o interesse da população. A explicação para isso é apenas o desinteresse do povo quando o assunto é política?

O que precisamos é resgatar a confiança, mostrando que a política pode e deve ser uma ferramenta de transformação, com trabalho sério e compromisso.

Nas redes sociais você se mostra bastante presente no dia a dia das ruas. O que mais te impressiona nessa Maceió?

O que mais me impressiona em Maceió é a força do povo. Apesar dos desafios, vejo uma cidade que luta diariamente para melhorar sua qualidade de vida. A energia, o sorriso no rosto e o desejo de mudança são o que realmente me motivam a trabalhar por uma Maceió melhor.

Se chegar a Câmara, pretende adotar uma bandeira no mandato? Qual será?

Sim, vou focar em três bandeiras principais: valorizar nossa cultura para fortalecer nossa identidade e fazer a cidade crescer, melhorar a vida dos idosos, oferecendo a assistência e respeito que eles merecem, e investir na educação e inovação para preparar os jovens para o futuro. E claro, meu compromisso é lutar por todos, garantindo que cada necessidade seja atendida e cada voz ouvida.

Você é empresário e sempre existiu uma discussão de mais apoio do poder público aos empresários, que sempre cobram corte de gastos e segurança jurídica para investimentos. Há Estado demais ou de menos para o setor empresarial?

O problema não é ter mais ou menos, mas ter um apoio efetivo aos empresários. Com segurança jurídica e menos burocracia, os empresários podem investir mais, gerar mais empregos e fazer a cidade crescer.

Olhando para Alagoas, temos um setor historicamente beneficiado pelo Estado- os usineiros. Nos últimos anos, as safras registram recordes. Não é hora desta rica fatia da sociedade local também contribuir para a nossa erradicação da miséria?

Enquanto o poder público não tomar medidas efetivas para reduzir a pobreza, não veremos um crescimento real. No meu ponto de vista, a ideia de apenas fazer doações não resolve o problema, pois não ajuda as pessoas a se tornarem autossuficientes. O que realmente iria fazer a diferença é a iniciativa privada, gerar mais empregos, oferecer capacitação, para ajudar as pessoas a se desenvolverem. No entanto, iniciativas privadas, de qualquer setor, podem sim fazer uma grande diferença adotando planos de assistencialismo.

Você caminha por uma Maceió que sente os efeitos de um crime ambiental que afundou 5 bairros. Ao mesmo tempo, uma empresa que é dona de 20% da cidade já que ela comprou estas áreas. O acordo Braskem e Prefeitura, que permitiu o pagamento de R$ 1,7 bilhão por prejuízos materiais ao poder público municipal, deveria ser revisto?

Sim, o acordo Braskem deve ser revisado. Com a empresa ainda atuando na cidade, é preciso que ela compense e cubra todos os danos, ajudando na recuperação total da cidade e das pessoas afetadas.

A Prefeitura de Maceió, assim como de outras capitais, tem várias áreas terceirizadas ou privatizadas, como o transporte urbano. Ao mesmo tempo, o prefeito JHC subsidia a passagem de ônibus para evitar os aumentos anuais, pressionado pelas empresas. Na sua avaliação, o poder público tem dinheiro para bancar valor da passagem, zerando para o cidadão e oferecer um bom sistema de transportes, como vemos em Luxemburgo, por exemplo?

O poder público pode encontrar uma forma de oferecer transporte gratuito e de qualidade. Com uma boa gestão e planejamento, isso não só melhora a vida de todo mundo, mas ainda deixa dinheiro extra no bolso das pessoas para gastar com outras coisas importantes.

Maceió tem bairros de luxo, com serviços de primeiro mundo, e locais onde o atendimento do poder público é precário, como a orla lagunar ou a parte alta. Ao mesmo tempo, há pressão do trade turístico por mais investimentos na chamada “parte rica”. O que para você explica tanta dificuldade do poder público – Estado e município- chegar de maneira igualitária a todos os espaços?

A dificuldade do poder público em atender todos os bairros de Maceió vem da falta de prioridade e planejamento. A cidade não é só bairro rico, e eu vejo isso nas ruas todos os dias. Meu compromisso é por uma Maceió que não seja esquecida, onde cada área, receba a atenção e os recursos que merece.

O SUS é um dos maiores sistemas públicos de saúde, mas o cidadão não consegue agendar, por exemplo, um psicólogo num posto de saúde da capital. O problema é só dinheiro? É gestão? Os dois?

Não é só uma questão de dinheiro. Poderia ser adotado o uso de tecnologias para agendamento online e a ampliação de parcerias com clínicas e profissionais para aumentar o atendimento.

Essa briga por obras entre o Estado e o município atrapalha ou ajuda a colocar em prática projetos para Maceió?

Acaba atrapalhando mais do que ajudando. Se todos colaborassem, os projetos sairiam do papel mais rápido e seriam mais eficazes. No fim, quem sofre nisso tudo é a população!

A briga mais recente são as creches. O Governo constrói os prédios mas a Prefeitura resiste em assumir. Não deveria ser óbvio, para qualquer gestor, que a educação é prioridade e o acesso a creche para as famílias de baixa renda uma forma lógica de redução das desigualdades?

Claro, a educação deve ser sempre prioridade. Garantir creches permite que as mães trabalhem e que as crianças se desenvolvam. Esse desencontro só faz com que quem deveria ser assistido acabe ficando para trás.

Você se filiou ao PSB, historicamente um partido de esquerda, mas seus antecessores familiares, desde seu bisavô Lindolfo, caminham mais à direita. Você se reconhece mais à esquerda ou à direita?

Eu me identifico com o que realmente ajuda a melhorar a vida das pessoas. Não estou preso a rótulos. O que importa é fazer a diferença e resolver os problemas da nossa cidade.

O PSB é do grupo dos Calheiros/Paulo Dantas, mas você também tem boas relações com o prefeito de Maceió JHC, que é oposição. Na eleição, você decidiu em quem vai votar?

Acredito que é necessário ter mudanças na política, para dar espaço para novas ideias e novas soluções.

O candidato do seu grupo Rafael Brito apresenta problemas para crescer na campanha, mesmo como apoio do presidente da República, o ministro Renan Filho, dois senadores, um governador. Como você explica isso?

Cada campanha enfrenta suas próprias dificuldades, e o foco deve ser em como podemos contribuir para o crescimento de Maceió, independentemente dessas questões.

O prefeito JHC é identificado como de direita, mas é filiado ao PL que hoje é o rosto da extrema direita no país. Isso deveria incomodar o eleitor?

Essa pergunta deve ser feita aos eleitores (risos). Cada pessoa tem suas próprias prioridades e critérios para avaliar um político.

O seu partido está na base dos apoiadores do presidente Lula. Numa eventual reedição do confronto Lula e Bolsonaro nas urnas, você escolheu seu lado?

No momento, estou focado em trabalhar para resolver os problemas de Maceió. No futuro, se houver uma nova disputa presidencial, eu avaliaria o cenário e tomaria uma decisão com base no que for melhor para o país e para nossa cidade.

Há uma discussão em Brasília sobre anistia ao ex-presidente da República e aos apoiadores de Bolsonaro que destruíram prédios públicos em 8 de janeiro de 2022. Como você analisa este contexto?

A responsabilidade sobre o projeto de anistia é dos legisladores e especialistas que estão avaliando. Que seja feita justiça!

A Gazeta de Alagoas está em recuperação judicial, seus advogados optaram que o espólio do seu pai não deve ser responsabilizado pelas dívidas trabalhistas. Há ainda a briga pelo sinal da TV Globo. Que futuro você enxerga para uma organização que seu pai ajudou a construir?

Eu tenho um carinho enorme pela história e pelo legado que meu pai ajudou a construir lá. Com uma boa gestão e foco, acredito que a Gazeta pode superar esses desafios e continuar a ser uma força importante na mídia local.

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