Por Julie Ferraz, “No olho do furacão”

Pense numa pessoa que encontrou seu equilíbrio no olho de um furacão que paira sobre o oceano. A expressão “no olho do furacão” é usada para determinar situações caóticas, mas a maioria das pessoas quando imagina um furacão pensa que o mesmo está em terra destilando caos e destruição.

É aí que encontramos o equívoco: olho do furacão é formado por vento brando, mais suave que o resto da tempestade. Uma calmaria momentânea, porém, extremamente perigosa por dar a impressão de que a tempestade cessou. Geralmente, é nessa hora em que as pessoas saem e se deparam com uma tempestade violenta e o resultado não é nada bom. Esse é olho do furacão em terra.

O olho do furacão no mar é completamente diferente… Na imensidão azul ele se solta e proporciona um espetáculo. São ventos violentos que agitam as águas formando paredes de mais de trinta metros de altura. É um artista pintando um quadro azul cravejado de cristais e raios… É uma obra prima. É como ver um furacão passando por dentro da sua alma.

Eu sempre tive fascínio pela natureza e hoje me deparei com um furacão em sua total força no mar da minha alma. As paredes se ergueram e caíram, e eu pude ouvir o som da água se desfazendo enquanto outras paredes tornavam a surgir. Já te disse que é um espetáculo, mas eu nunca havia visto desta forma.

A vida tem apresentado caminhos tortuosos com furacões, tempestades e terremotos. Eu tinha pavor desses eventos cataclísmicos antes de aprender a amar minhas sombras. Não é novidade pra ninguém que não somos apenas luz. E o pior de tudo é que eu tinha essa mania feia de tentar ignorar minhas sombras, parte crucial do meu ser. Também não vou te dizer que foi fácil abraçar as trevas do meu interior. Foi doloroso no início, mas hoje vejo que não é nada tão feio como pensei que fosse, ou talvez até seja, mas é a feiura da minha alma e eu não vou negar por que tenho pessoas ao meu redor que não gostam dela.

É o olho do furacão que eu sou no oceano da minha vida. É o clímax da minha força perante o mar que corre dentro de mim. É lindo. É uma obra prima e eu sei aprecia-la. E, definitivamente, parei de me importar com aqueles que não o sabem.

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