Entre a oportunidade e a mediocridade

Antenor Barros Leal-O Globo

Dinheiro é a única coisa abundante no mundo. A disponibilidade de recursos para investimentos ultrapassa qualquer avaliação de pessoas ou entidades. Em contraste, poderíamos dizer: o que mais falta no mundo é projeto. Projeto e ambiente favorável para receber a enorme soma disponível.

A qualificação de um investimento passa por processos de seleção altamente refinados que levam em conta todos os componentes possíveis, onde o terreno e a construção são os mais simples. Antes, são examinados pontos cruciais: ambiente de negócios, níveis de burocracia, padrões de eficiência funcional, previsibilidade e relatos referentes aos níveis de burocracia X corrupção (as duas se retroalimentam).

Os dados econômicos em si, isto é, tamanho de investimento, taxas de retorno, formas de capitalização, capacitação profissional média, estrutura de mercado, concorrentes, disponibilidade de executivos, habitabilidade das cidades alvo, incluindo meio ambiente e segurança, são fundamentais para a decisão final.

Todo esse imenso processo seletivo está condicionado ao principal: garantia dos investimentos e remessas de lucros; não discriminação a multinacionais; existência de marcos regulatórios pacificados, respeitados e previsíveis; e, principalmente, legislação trabalhista, se pró-emprego ou pró-sindicato.

É dentro desse emaranhado de condições que os países disputam os investimentos à procura de portos seguros para fincar seus interesses. Não há mais espaços para comportamentos que não sejam propositivos em busca dos valores, sempre maiores, para suprir as necessidades do desenvolvimento nacional. No Brasil, vis-à-vis à baixa taxa de poupança interna, a dependência desses recursos alcança, a cada dia, uma importância muito grande. Os estímulos necessários à poupança no Brasil, atualmente, são substituídos por incríveis e inoportunos movimentos de incremento ao consumo, atrasando, ainda mais, o momento desejável para uma economia mais equilibrada, onde a poupança interna possa ser fonte de financiamento para o desenvolvimento.

Um recente relatório do Banco Mundial inclui avaliações de aspectos mais variados, como por exemplo: número de dias para registrar uma escritura ou para obter uma sentença em simples ação executiva de cobrança, para registrar uma operação de exportação/importação, para conseguir uma ligação de eletricidade ou um alvará de instalação. Uma análise cuidadosa dos níveis de dificuldade para identificar e pagar impostos é etapa indispensável. São muitos os itens do estudo e todos decisivos para uma tomada de posição. Lamentável, mas o Brasil anda mal nesse campeonato.

Engana-se quem acha que os investidores buscam juros altos ou economias inflacionárias para ganhos fáceis. As enormes taxas de juros pagas por tantos países não conseguem desviar recursos que estão guardados, às vezes sem qualquer remuneração, nos Estados Unidos ou Japão, por exemplo, à espera de projetos convincentes.

Resta ao Brasil competir para ganhar a parcela que necessita nessa corrida dramática pelo desenvolvimento definitivo. Desenvolvimento que permita a seu povo não a satisfação presente de uma esmola recebida, mas as condições de educação, saúde, emprego, tecnologia e segurança, únicas capazes de fornecer dignidade e perspectivas a todos.

Sobra ao Brasil a opção vencedora de ser destino seguro para investimentos duradouros e benéficos ao seu progresso. A não ser que opte por perder mais uma vez uma grande oportunidade existente, e caminhar para a mediocridade.

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