Repórter Nordeste

Ensino médio: desastre exige ação urgente

Correio Braziliense

Procrastinar é uma das marcas nacionais. Outra, confundir palavras com obras. Imaginar que planos — alardeados aos quatro ventos nãocomo “uma” solução, mas “a” solução — resolvem o problema. Não resolvem. Enquanto se perde tempo com proclamação de intenções, a questão se agrava. É o que se observa no ensino médio.

O Índice de Desenvolvimento da Educação (Ideb) divulgado esta semana se encarregou de trazer os pseudossonhadores à realidade. Em 17 unidades da Federação, manteve-se quase estagnado (passou de 3,6 para 3,7). Nas demais, piorou. O desastre, vale frisar, não constitui novidade.

As avaliações anteriores mostraram o lamentável desempenho dos estudantes desse nível de ensino. Com o diagnóstico que se repetiu ao longo dos anos, esperavam-se medidas eficazes, aptas a corrigir os rumos tortuosos do percurso que conduz à universidade.

Um dos grandes problemas é o currículo. A obrigatoriedade de estudar 13 disciplinas não permite aprofundar nenhuma. Ao término docurso, formam-se especialistas em tudo que não sabem nada. Português e matemática, alicerces para a aquisição dos demais conhecimentos, ficam diluídos no emaranhado de informações impostas aos jovens, que, ademais, carregam dificuldades da trajetória iniciada no fundamental.

Enxugar o currículo é, pois, medida urgente e indispensável. Em 2000, há 12 anos, portanto, documento da Secretaria de Educação Básica (SEB) criou comissão para estudar soluções. A proposta então apresentada coincide com a agora anunciada pelo ministro Aloizio Mercadante como novidade — a divisão do conhecimento em três áreas. Uma: linguagens, códigos e suas tecnologias. Outra: matemática e suas tecnologias. A última: ciências humanas e suas tecnologias.

Em 31 de janeiro deste ano, o Ministério da Educação publicou no Diário Oficial da União portaria com essas mudanças, aplaudidas na ocasião como marco na necessária guinada. Foi um dos últimos atos do então ministro Fernando Haddad, candidato petista à Prefeitura de São Paulo. De lá pra cá, nada aconteceu.

Assim, é legítimo perguntar se as promessas de Aloizio Mercadante se transformarão em atos. Espera-se que sim. Obstáculos terão de ser enfrentados. O primeiro é a formação de professores multidisciplinares que substituirão os monodisciplinares. Profissionais qualificados para responder ao novo desafio não se compram em supermercado. Exigem anos de estudos. Nas condições atuais, os melhores cérebros não se candidatam ao magistério. Buscam empregos não só mais bem pagos, mas também mais reconhecidos. Como chegar lá?

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