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‘Enquanto estiver vivo, vou lutar’, diz cacique Raoni na Cúpula dos Povos

Entre cantos e danças típicas, a legião indígena que invadiu a Cúpula dos Povos, evento paralelo à Rio+20 que ocorre no aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro, foi o centro das atenções no primeiro dia do evento. Mas quem roubou a cena mesmo em sua chegada foi cacique Raoni, arrastando uma multidão de fotógrafos, jornalistas e, claro, índios que registravam a chegada de um ídolo.

As informações são do Terra.

Há 25 anos, Raoni Metuktir, da tribo caiapó, ganhou notoriedade internacional ao receber o cantor Sting, do grupo inglês The Police, no parque nacional do Xingu, e chamar a atenção para a preservação da Amazônia e das tradições indígenas. Aos 83 anos, Raoni, com seu tradicional disco de madeira no lábio inferior, mostra que ainda é capaz de mobilizar os índios para a luta usando sempre o seu próprio exemplo.

“Enquanto eu estiver vivo, vou lutar”, disse, arrancando aplausos da plateia indígena. “Temos que estar unidos para lutar contra as coisas que o homem branco vem fazendo com a gente desde que chegaram aqui. Nós temos que ser fortes, temos que falar, vamos discutir nossos problemas, e entregar algum documento para que o branco respeite nossa terra e nossos costumes. Não desistam”, completou.

Da mesma forma que lutou em 1989 contra a barragem de Kararaô, em Altamira, no Pará, que acabou tendo o seu projeto abandonado após a repercussão internacional adquirida, o momento agora, segundo o cacique, é brigar para que a Amazônia não vire palco de usinas hidrelétricas, assim como já ocorre com Belo Monte e Girau.

“Eu sou contra o desmatamento, sou contra barragem, sou contra a mineração nas nossas terras, sou contra isso tudo. Escutem o que eu falo, olhem para mim, eu ainda estou vivo para lutar por nós. Vocês têm que estar comigo. Vamos brigar contra quem acaba com nossos costumes. Eu ainda continuo lutando por vocês, e pelo que eu acredito. Façam o mesmo”, discursou, arrancando inúmeros aplausos na tenda indígena da Cúpula.

Após sua campanha bem sucedida em 1989, Raoni ganhou notoriedade internacional e projeto próprio do baixista e cantor Sting, que abraçou seus ideais ao formar a Rainforest Foundation, instituição para apoiar os projetos do cacique, que viajou para mais de 20 países, apresentando seus argumentos para a causa indígena brasileira.

Momento de discussão na Cúpula dos Povos
A tenda montada no aterro do Flamengo, por mais que chame a atenção de quem passa pelo local pelas danças, vestimentas e até mesmo pelos novos costumes tecnológicos, também será palco de importantes discussões em torno da causa indígena, coordenadas pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib).

“Nosso objetivo é fortalecer a união dos povos indígenas do país, congregando as cinco regiões do Brasil”, explicou Sônia Wajajara, dirigente da instituição. “Nosso modo de conviver com o meio ambiente demonstra que os povos indígenas sabem cuidar e sabem preservar. Nossas terras são as mais preservadas, então, ninguém melhor do que a gente para dizer o que é ser sustentável, como conviver com a mãe terra, bem sagrado para os índios”, completou.

As metas dos debates também incluem causas antigas dos índios, como demarcação de terras, investidas contra construção de usinas hidrelétricas, principalmente na Amazônia, além de chamar a atenção, mais uma vez, para as ameaças diárias que eles sofrem ao buscar os seus direitos.

 

“E um encontro para compartilhar nossa dor e sofrimento pela demarcação da terra, principalmente dos guarani-kawuia. São ameaças diárias, vocês não tem ideia do que passamos lá no Mato Grosso do Sul. Esse pessoal mata mesmo. Temos nossos direitos. Cadê a nossa voz?”, indagou Antoniel Ricardo, um dos coordenadores da Apib, arrancando aplausos da plateia.

Rio+20
Vinte anos após a Eco92, o Rio de Janeiro volta a receber governantes e sociedade civil de diversos países para discutir planos e ações para o futuro do planeta. A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, que ocorre até o dia 22 de junho na cidade, deverá contribuir para a definição de uma agenda comum sobre o meio ambiente nas próximas décadas, com foco principal na economia verde e na erradicação da pobreza.

Composta por três momentos, a Rio+20 vai até o dia 15 com foco principal na discussão entre representantes governamentais sobre os documentos que posteriormente serão convencionados na Conferência. A partir do dia 16 e até 19 de junho, serão programados eventos com a sociedade civil. Já de 20 a 22 ocorrerá o Segmento de Alto Nível, para o qual é esperada a presença de diversos chefes de Estado e de governo dos países-membros das Nações Unidas.

Apesar dos esforços do secretário-geral da ONU Ban Ki-moon, vários líderes mundiais não estarão presentes, como o presidente americano Barack Obama, a chanceler alemã Angela Merkel e o primeiro ministro britânico David Cameron. Ainda assim, o governo brasileiro aposta em uma agenda fortalecida após o encontro.

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