O Conselho Federal de Psicologia (CFP) publicou, no dia 14, uma nota à categoria chamando os psicólogos(as) para a possibilidade de exercício profissional em emergências e desastres.
Apesar da centralidade midiática na emergência biomédica do Covid-19, devemos estar cientes do fato que existem emergências psicológicas e sociais que já afetam a sociedade em grau considerável neste contexto.
Ele orienta que as ações do psicólogo(a) deve contribuir:
1) na orientação sobre aspectos de higiene que visem minimizar riscos de contaminação,
2) na conscientização sobre eventuais mudanças de hábitos e possíveis implicações emocionais advindas dessas mudanças;
3) abordar, quando necessário, implicações emocionais de uma possível quarentena e de aspectos psicológicos do isolamento, em especial de pessoas idosas e
4) exercer a profissão segundo os princípios do Código de Ética Profissional do Psicólogo, prestando informações precisas de modo a não causar pânico (ver CFP, 2020)
Devemos estar atentos, sobretudo, a nossa capacidade de criar estratégias de apoio psicológico à sociedade e lidar com as distintas necessidades que surgem um contexto de emergência, bem como, entender as condições materiais que a maioria das pessoas em Alagoas e no Brasil, vivem.
Portar informações básicas para orientar e situar as pessoas diante dos riscos é importante, mas precisamos nos colocar como membros das equipes de saúde e ir ao trabalho ao lado do povo.
Além disso podemos participar da formação e preparo de profissionais que podem lidar diretamente com os pacientes infectados.
O psicólogo(a) pode estar presente, inclusive, na elaboração de políticas públicas e ser colaborador nas ações do Estado que visem compreender a relação entre as pessoas, suas emoções e comportamentos nos espaços e locais em que vivem (ver Melo e Santos, 2011).
Mas não podemos esconder que não é incomum a falta generalizada de acesso a serviços psicológicos no âmbito da saúde pública e isto constitui uma questão de ordem política que emerge no seio das contradições e tendências históricas da luta de classes no nosso país.
Assistimos à aprovação da Emenda Constitucional (EC) 95, mas conhecida como EC do Teto dos Gastos Públicos, que pode congelar por até 20 anos os investimentos em saúde, por exemplo.
A posição da burguesia brasileira é clara e muito precisa diante dos seus interesses: o apoio a um projeto neoliberal que necessariamente passa pelo desmonte dos serviços públicos.
Logo, não podemos negar que isto afeta de forma imediata nossa atuação frente a situações de emergência como a do Covid-19.
Se a burguesia tem uma posição clara e precisa, qual deverá ser nossa resposta a favor da classe trabalhadora?
Saúde e luta de classes é uma realidade antiga no Brasil e iniciativas como o SUS sobrevivem por causa de muita resistência e luta (ver Gouveia e Palma, 1999).
É neste contexto que precisamos atuar e as recomendações para atuações contundentes precisam considerar o caráter político e necessariamente de luta em nossa realidade histórica, reconhecendo os desafios postos a nós, psicólogos(as).
Além do mais, há trabalho junto ao povo e se fazer presente é o ato político em tempos de angústia e medo.
Saiba mais:
CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Coronavírus: Comunidado à categoria. Disponível em: < https://site.cfp.org.br/coronavirus-comunicado-a-categoria/?fbclid=IwAR2lqWxuq-I2JsqocvL8y8hd8ZeHYs58pordXPIy4slgGu8voHVNgCt1En8>
GOUVEIA, R.; PALMA, J. J. SUS: na contramão do neoliberalismo e da exclusão social. Estudos Avançados, vol. 13, n. 35, 1999.
MELO, C. A.; SANTOS, F. A. As contribuições da psicologia nas emergências e desastres. Psicólogo informação, vol. 15, n. 15, 2011.