Sérgio Buarque de Holanda e Carlos Drummond de Andrade fizeram, em vida, um pacto: após a posse de Getúlio Vargas como membro da Academia Brasileira de Letras, decidiram recusar convites para o colegiado autodenominado sinônimo de intelectualidade.
Ambos foram perseguidos pela ditadura do Estado Novo. Nada mais coerente, portanto, rejeitar dividir o mesmo teto com o algoz.
Entrevistado neste final de semana pelo Globo, José Sarney, 95 anos, leitor, intelectual e da Academia Brasileira de Letras desfilou conselhos e pieguices do jornal. Superficialmente há quem veja nisso traços de sabedoria. Olhando, porém, para o Maranhão- terra onde o patriarca mandou por décadas- a tal da intelectualidade se desmancha.
Disputando as piores colocações em todos os índices sociais, o Maranhão é mais uma cobaia na história do nosso Brasil sobre os ditos intelectuais que entram na política-partidária e rapidamente são comparados a personagens humanos, sensíveis, altruístas.
O intelectual Conde dos Arcos governou a Bahia e mandou fuzilar um verdadeiro intelectual e republicano, o padre Roma, que saiu de Maceió numa jangada em defesa da independência do Brasil.
Chamar Sarney de intelectual é também o indicativo dos restos da nossa elite de pensamento mais raso que um pires. Pior: normalizando a rotina dos injustos. Como Sarney.