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Em Maceió, o confete de carnaval virou pedra

O ano de 2013 revela os interesses que rondam o fim do carnaval em Maceió. Não é a violência ou a falta de uma tradição nos bairros para abrigar a festa. Esta é a justificativa oficial. Não há falta de dinheiro do poder público para ajudar a confeccionar algumas máscaras.

Outras máscaras escondem o fim da ideia, da fantasia ou da música. Afinal, o mesmo poder público financiava- direta ou indiretamente- os carnavais nos clubes com os ricos de Alagoas. Também o protecionismo atuou na criação-e manutenção- das escolas de samba da capital, algumas com mais de 50 anos.

2013 revela estes interesses porque cada escola de samba de Maceió mostrou sua beleza e alegorias no próprio bairro que a originou. É um quase não-desfile, um fim anunciado. É um grito abafado, escondido nos barracões. Quase um desespero para o final desta manifestação que só existe pela própria teimosia do periférico.

No bairro do Benedito Bentes, o eterno prefeito comunitário Silvânio Barbosa tomou para si a escolha de 150 mil pessoas e decretou o fim do carnaval. Aliado, o Palácio República dos Palmares concordou.

O voto da censura foi justificado pela violência. Como se todo maceioense não ficasse vulnerável o restante do ano.

70% do PIB de Maceió vem do setor de serviços- lastreado, também, pelo turismo. O custo por metro quadrado- para construção- em Alagoas, é o terceiro mais caro do Nordeste. Perdemos para o Maranhão e a Paraíba.

Ajustada a ditames empresariais, Maceió aplica estas duas condições para justificar o etnocídio, atraindo o turista (endinheirado) que foge do circuito Barra/Ondina, das ruas de Recife ou das ladeiras de Olinda.

Nada de gente engalfinhada na praça Moleque Namorador ou saindo de cemitério à meia noite para pular carnaval. A Maceió empresarial tem de ser eficiente, silenciosa para o sono- mesmo com as esquinas da Ponta Verde ou da Cambona apinhadas de lixo.

É um etnocídio semelhante a Salvador e seu carnaval concentrado na orla, local onde os ricos gastam mais e o poder público lucra melhor. Menos o povo. Sufocando os carnavais das outras ruas, becos ou vielas.

Um dia, pular carnaval significava jogar confete e sepertina no desfile dos modelos novos dos carros dos mais ricos.

Hoje, o carnaval de rua de Maceió comemora o prefeito que assina contratos de milhares de reais com bandas sem ligação cultural com as cidades litorâneas, empurrando os jovens para as festas do interior e das músicas da moda. Ou serve a esse turista que frequenta uma cidade com um setor de serviços deficiente e mal planejado.

A Maternidade Santa Mônica e o Hospital Geral do Estado funcionam, neste carnaval, com 30% de suas capacidades. Quem deveria ser demitido por tanta incompetência?

Os confetes viraram pedras, arranhando nossa dignidade.

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