Em Alagoas, Valter Pomar defende mais rigor em alianças do PT

Ex-vice-presidente do partido falou ao reporteralagoas.com.br

Odilon Rios
reporternordeste.com.br

Nesta sexta-feira, o integrante da Articulação de Esquerda do PT Nacional, Valter Pomar, vem a Alagoas para levar adiante atividades do partido. A proposta é preparar o PT para 2012. Antes de pisar em Alagoas, ele conversou com o reporternordeste.com.br:

Há um tratamento evidentemente diferente da mídia nacional nos governos Lula e Dilma. Enquanto Lula era associado a todos os escândalos de corrupção, a mídia faz um paralelo entre a equipe da presidente e estes escândalos, colocando Dilma como grande faxineira. Por que Dilma “agrada” mais?

De fato, a mídia parece tratar melhor a Dilma 2011 do que o Lula 2003-2010. Há várias causas para isto. Primeira causa: setores da mídia aprenderam um pouco com a experiência passada e está buscando o mesmo objetivo, de maneira um pouco diferente. Segundo, Dilma e o PT também aprendemos com a experiência passada e estamos evitando certas armadilhas. Terceiro, a grande midia considera Lula (e não Dilma) como inimigo principal. Tudo isto gera a impressão de que Dilma estaria “agradando mais”. Mas, como disse, isto é uma impressão, é momentânea e gerada por mudanças de tática de ambas as partes. O que não mudou: a direita brasileira, grande mídia inclusa, segue adotando contra nós a tática de sempre, já usada por Lacerda contra Vargas e pelos golpistas contra Jango: a acusação de corrupção. Como se percebe, a turma da privataria é também demagógica.

Apesar do estilo, Dilma não conseguiu dissociar o Governo de personalidades naturalmente associadas à corrupção, como Sarney ou, no caso de Alagoas, a Collor e Renan. Para garantir a governabilidade, vale a pena pagar um custo tão alto?

A corrupção é um fenômeno sistêmico o Brasil, que foi agravado no período neoliberal. É sistêmico, entre outros motivos, por causa do financiamento privado das campanhas eleitorais, através do qual as empresas privadas compram “cotas” dos mandatos parlamentares e executivos, que retribuem com favorecimento ilegal aos respectivos financiadores. Se agravou no período neoliberal, porque um ambiente de ganho fácil especulativo estimula e encoberta mais facilmente o enriquecimento ilegal. O único jeito de acabar com a corrupção sistêmica, portanto, é acabar com neoliberalismo e fazer a reforma política, introduzindo o financiamento público. Enquanto isto não ocorre, qualquer governo decente terá que conviver, em maior ou menor medida, com setores da oposição e setores da base com este tipo de “associação”. Evidentemente, acho possível reduzir o dano: basta ser mais rigoroso na política de alianças.

Como o PT Nacional avalia a situação do PT alagoano?

Desconheço que o PT nacional tenha uma avaliação específica do PT alagoano. O que existe é um esforço para que o PT local cresça, tenha mais força social, representação parlamentar federal.

Recentemente em Alagoas, o presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra, disse que a Dilma é, de longe, o Governo mais corrupto dos últimos tempos, superando o de Lula. Avalie este ponto de vista.

Boa lembrança esta tua, demonstrando como é aparente e momentânea a boa vontade de setores da mídia e da direita com Dilma. Aliás, a medida que aumente a influência política e a capacidade de “transferência de prestígio” de Dilma, a direita vai aumentar o tom contra ela também. Quanto ao que disse Sérgio Guerra, que posso falar? O cidadão preside um Partido que tem suas principais figuras públicas acusadas de envolvimento num brutal processo de corrupção, a saber, as privatizações. E tem uma enorme dificuldade de falar algo mais criativo acerca do nosso governo, por exemplo discutir a política econômica, social etc. Aí lhe resta este tipo de acusação.

O Estado mais pobre do Brasil e mais dependente dos programas sociais do Governo Federal- como o Bolsa Família- já teve três presidentes da República e nenhum representante do PT na capital federal, não consegue eleger o prefeito de Maceió nem ter uma votação expressiva na disputa ao Governo. Por que isso?

Vou falar em tese, não sobre Alagoas.

Na minha opinião pessoal, há estados onde o PT não conseguiu transformar-se em pólo de poder antes de 2002. Por pólo, refiro-me a estados onde elegemos o governador ou ficamos em segundo lugar na disputa. Nos casos em que não conseguimos isto, onde ficamos em terceiro ou quarto lugar nas disputas estaduais, tem ocorrido muitas vezes do PT se transformar em “linha auxiliar” de uma das duas forças políticas principais do Estado. E isso muitas vezes reduz ainda mais nossas chances eleitorais.

O outro problema, na minha opinião, é local. A saber: por quais motivos, num determinado estado, não conseguirmos virar pólo de poder e por quais motivos adotamos uma política de “linha auxiliar” e por quais motivos com esta linha não conseguimos nem mesmo eleger um representante federal. Aí o problema está ligado ao que fizeram determinadas lideranças do Partido e também está ligado as opções políticas da maioria partidária em cada estado.

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