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Efeito Xakriabá na Câmara Federal

Durante muito tempo o voto para escolher componentes da Câmara dos Deputados esteve acoplado aos projetos de poder, no Brasil, como um acessório de menor importância para os eleitores, afinal, a capital do poder sempre pareceu tão, tão distante das pessoa comuns!

Mas o seguir da história está ajudando a despertar olhares, e os deputados e deputadas federais já não são deixados em posição aleatória, como apenas um voto que precisa ser dado a alguém.

Aos poucos (lamentavelmente muito aos poucos) o eleitor e a eleitora estão observando a atuação daqueles eleitos e suas influências decisórias em questões de interesse, que chegam até cada um de nós. Lamentando outra vez, admitimos que foi a má intencionada extrema direita quem resolveu mostrar força política arregimentando seus representantes em Brasília para começar a desforra no país; como exemplo, o emblemático golpe parlamentar de 2016, e, na sequência, inúmeras perturbações ao bom senso, como a recente tentativa de emplacar o PL conhecido como aquele do estupro.

Desde 2016, passando por 2018, e no tempo presente como palco de disputas entre a idade média e o iluminismo, nas tribunas federais, a importância de eleger deputados e deputadas  que pelo menos nos ouçam, enquanto povo brasileiro, se revela cada mais intensa.

Como analista crítica do identitarismo no cenário político, considero importante ponderar sobre a atuação de algumas pessoas eleitas por carisma de segmentos, admitindo que esta via foi fundamental, para que uma referência como a deputada eleita por Minas Gerais, Célia Xakriabá, tenha conquistado mais de 100 mil votos.

Apesar de ser liderança e pessoa com formação acadêmica de alto nível, pois é doutora em Antropologia pela UFMG, o status de mulher indígena foi fundamental no processo eleitoral, principalmente no mesmo estado que elegeu Nicolas Ferreira, sua antítese miserabilizada.

Pautas como Marco Temporal e Meio Ambiente encontram abrigo na atuação de Célia, entre outras correlatas, voltadas para minorias e povos, como quilombolas, por exemplo. A inteligência e desenvoltura de Xakriabá na Câmara Federal fortalece o pequeno grupo de combatentes das propostas esdrúxulas, medievais e ultraliberais que os filhos e filhas da extrema inquisição mercadológica propõem e defendem ardorosamente em Brasília.

Se o identitarismo pode ser criticado e muitas vezes merece crítica, no atual contexto brasileiro se tornou uma via de acesso ao poder através do voto, algo secularmente relegado à classe dominante e famílias tradicionais no carreirismo político nacional.

Que sirva de exemplo ao Brasil, desde as eleições municipais, onde os parlamentos locais serão decididos em dois meses, para que cada eleitor e eleitora possa perceber a importância do voto em quem veste as nossas causas, defende leis que beneficiem as populações e fortaleçam direitos, não os tirem de quem já conquistou com lutas históricas.

Com Célia Xakriabá e outras lideranças que manifestam compromisso com a diversidade brasileira e sobrevivência dos povos, da nação trabalhadora e desempregada, dos que perderam territórios de 2016 até o presente, possamos elevar a crítica ao voto para deputados federais, no intuito de sanear o ar da Câmara , diminuindo o poder de voto da extrema violação, que luta a cada dia para se inserir em mais espaços de poder.

Precisamos de representantes do povo nos parlamentos, não de máquinas tradicionais de fazer dinheiro para empresários e gerar oferendas ao deus mercado, à custa das nossas vidas e dos biomas fundamentais ao equilíbrio do planeta.

Não existe voto sem importância, assim como não existe eleição sem consequência.

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