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É possível celebrar o Ano Novo?

Pedro Montenegro, é militante de Direitos Humanos.

Estamos terminando o ano de 2020, imagino que esse seja um momento propício para uma pausa reflexiva.

Sinto-me, impelido a partir de leituras dos livros, Vida Precária: os Poderes do Luto e da Violência e Quadros de Guerra: Quando a Vida é Passível de Luto, da filósofa norte-americana, Judith Butler, a fazê-la, ainda que de forma abreviada.

O mundo registra 1,78 milhão de mortes pelo Covid-19. No Brasil, nesses tempos em que ódio venceu a esperança, a ignorância e a mentira são as principais virtudes da política, as vítimas do coronavírus já beiram as 200.000.

Essas milhares de vítimas ceifadas contam como humanas? Quantas dessas vidas contam como vidas? Quantas são dignas de luto?

O meu “direito à existência”, denominado por Spinoza de Conatus Essendi, proposto por ele como a essência mesma do ser humano e esforço para perseverar e expandir a sua potência de existir autoriza-me a ignorar os rostos dos que se foram e celebrar o fato de está vivo?

Não haveria um imperativo ético amoroso, decorrente da impossibilidade do eu sobreviver sozinho e de não encontrar sentido dentro de seu próprio ser no mundo, de responder aos rostos dos que me pedem para não morrer sozinhos?

Butler recorrendo ao filósofo francês, Emmanuel Lévinas, lembra que os rostos dos outros fazem reivindicações morais sobre nós, nos endereçam demandas éticas, demandas éticas que não pedimos, mas que não podemos nos esquivar.

Nesse sentido, os rostos dos que se foram clamam um édito ético: Não Matarás, Não Colocará em Risco a Vida do Outro.

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