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Discurso do governador no programa Juventude Viva, lançado em Alagoas

Senhores e senhoras,
Estamos reunidos aqui para o lançamento do Plano Juventude Viva.

Entendo a escolha de Alagoas para ser o “marco zero” no esforço pelo sucesso deste plano como uma honra desafiadora, ou seja: uma grande oportunidade de aqui conquistarmos êxitos significativos para todo o Brasil.

Há meses atrás, conversando com a presidenta Dilma Rousseff, fiz um resumo dos avanços do plano Brasil Mais Seguro em nosso Estado. Porém acrescentei nossas preocupações para com a necessidade de ser dado um tratamento mais profundo, mais intenso, contra as fragilidades que minam nossa base social, criando as condições propícias à cooptação de incontáveis jovens para as veredas do vício e do crime.

Evidentemente que essas fissuras no tecido social não são exclusividade alagoana, nem mesmo brasileira.

Mas, em Alagoas, inegavelmente, está encruada a realidade mais dramática de todo Brasil.

Nosso Estado, há pelo menos 20 anos, sofre uma terrível combinação entre a estagnação econômica, a deterioração dos serviços públicos essenciais e o espalhamento do crime organizado.

Alagoas ficou para trás, ao longo das duas últimas décadas, em relação a todo Brasil. E, de forma muito sentida para nós, fomos dissociados do ritmo de crescimento registrado em nossa própria Região, o sofrido Nordeste.

Como se os alagoanos tivessem sido retornados às cenas deploráveis descritas em Vidas Secas, só que, numa versão piorada. Antes as famílias eram desalojadas por força da Natureza e de um sistema social injusto. Hoje as famílias são desestruturadas menos pela Natureza e mais pela justaposição de uma herança social injusta com o assédio poderoso do crime organizado, da violência e do vício.

Pior que a realidade esturricada enfrentada por Fabiano, sinhá Vitória e suas crianças, a contemporaneidade cria um retirante que se desenraíza não só do solo, mas que dele é retirada toda esperança. E nele é secado, devastado, o núcleo familiar.

Os novos meninos e meninas de Sinhá Vitória estão sendo sugados, há duas décadas, para um mundo coberto de penas das drogas e do crime. Para esses jovens tudo falta: empregos, escolaridade, saúde, e até núcleos familiares.
Para esses jovens devem voltar-se o olhar, as atenções e os recursos dos Poderes Públicos.

Este é o passo, em simultâneo, que deve ser dado em acompanhamento ao sucesso de programas como o Brasil Mais Seguro.

Neste particular, tal qual disse à presidenta Dilma, seguimos satisfeitos pelos resultados do Brasil Mais Seguro.
Mas estamos inseguros, temerosos mesmo, sobre a perspectiva de um amanhã no qual as condições sociais de hoje, especialmente nefastas para a nossa juventude, sigam sendo as mesmas.

Não basta sermos eficientes nas ações policiais. A defesa social, como expressão sustentável do conceito de Segurança Pública, exige, em verdade, mais ações preventivas que repressivas.

Alagoas é a unidade federada na qual a tragédia nacional da insegurança pública é mais grave e preocupante.

Com grande alegria, portanto, dias depois de minha conversa com a presidenta Dilma, recebi o convite para uma reunião com o ministro Gilberto Carvalho.

Fui recebido no gabinete da Secretaria Geral da Presidência da República, e ali o dono da casa me fez uma exposição do conteúdo, objetivos e metas do Juventude Viva. E me perguntou: “Téo, você topa mesmo entrar neste projeto? Será uma experiência pioneira e a participação dos governos estaduais será decisiva”.

Topei na hora.

E agora, meu caro Ministro Gilberto Carvalho, aqui você está, em Maceió, nos dando a honra de chancelar, juntamente com a ministra << citar aqui, novamente, nomes e cargos dos representantes de Brasília>> o lançamento o Plano Juventude Viva.

Em seu nome, Ministro Gilberto Carvalho, quero agradecer a todos os membros do governo federal que nos honram com sua presença a este ato.

E, Ministro Gilberto Carvalho, peço-lhe que, em nome dos alagoanos, leve nosso abraço de agradecimento a presidenta Dilma Rousseff.

Faço questão de salientar não serem esses agradecimentos um mero reconhecimento pela atenção dispensada.

Quando os cidadãos e cidadãs investem seus esforços numa causa como esta, tão nobre quanto difícil, devem estar conscientes da grandeza do projetado.

Como poderemos nos dirigir à juventude, dizendo-nos portadores de uma mensagem pela vida, se mantivermos entre nós as distâncias das siglas políticas?

Como teremos condições de propor todo esse conjunto de ações estratégicas voltadas a reconstruir as oportunidades de vida, trabalho e cidadania aos jovens, se estivermos prestando mais atenção ao que nos divide e não ao que nos une?
Temos nós, antes de tudo, a missão de demonstrar, de comprovar pela prática, que apesar de sermos entes partidários distintos, estamos unidos – e de forma indivisível – quando o que está em jogo é o destino de nosso País, de nosso Estado, de nosso povo, enfim.

Esta capacidade de nortear-se pelo que ajunta, relegando a plano inferior o que possa nos apartar, é uma notável característica da presidenta Dilma Rousseff e de seu governo.

É deste espírito republicano, é dessa alma cidadã, genuína, que precisamos nos imbuir, todos, para que o Brasil possa vencer os desafios.

E o que estamos a fazer neste momento?

Estamos nos unindo em benefício da geração de inovadoras oportunidades para a juventude brasileira.

Estamos enfrentando um desafio imenso e complexo.

Repito aqui os dados amplamente divulgados pela mídia e que descortinam a visão da nossa tragédia: 53% dos homicídios registrados no Brasil atingem pessoas jovens, das quais mais de 75% são jovens negros, de baixa escolaridade, sendo a grande maioria do sexo masculino.

Difícil tarefa esta a que nos propomos enfrentar.

Não podemos encarar verdadeiramente esta missão sem considerá-la em toda a sua extensão e profundidade.

Ao falarmos de Juventude Viva, falamos de educação, cultura, saúde, esporte, formação profissional, emprego e renda, local de moradia…

A primeira vista, parece que estamos diante de uma missão impossível.

Mas lembro-me e lembro aos presentes que, ainda na década de 70, há quatro décadas, portanto, do que testemunhei quando acompanhava meu pai, o senador Teotônio, nas visitas aos presos políticos. Naquela época, dizia meu pai, ao sair de cada presídio, que não tinha visto dentro das celas nenhum terrorista, via ele apenas jovens idealistas entre as grades.

Naquele tempo eleições diretas para presidente eram um sonho, anistia era um desejo e delírio seria imaginar um daqueles jovens num cargo político relevante como deputado, senador, ministro de Estado. Presidente da República, então… Seria loucura.

Teotônio antevia aqueles jovens libertos e assumindo os mais altos postos da Nação. Não chegou a ver nada disso, mas suas previsões se confirmaram.

E a constatação mais importante é que aquelas suposições atrevidas nos idos de 1979 não eram desvarios. Eram sonhos sonhados junto, eram uma aposta no poder transformador do esforço político conjunto coordenado entre forças díspares, porém unidas em torno de objetivos claros e transparentes.

Assim hoje estamos aqui para transformar sonhos em realidade.

Difícil? Sim. Impossível para os acomodados, irrealizável para quem teme arriscar-se na busca do sonhado.

Ás vezes, como no caso de meu pai e os presos políticos, entre o sonhado e sua realização esticam-se anos e muitos dos sonhadores não logram verem a materialização de suas ideias. Mas o importante é a construção do sonhado.

Amparados e empolgados pelo que temos testemunhado em termos da construção de projetos tidos como impossíveis, nos lançamos em mais esta empreitada cidadã.

E voltamos aqui aos viventes de Graciliano Ramos em Vidas Secas. O último capítulo dessa obra genial mostra o calejado e sofrido Fabiano a sonhar. Sonha ao, novamente, arribar tangido por nova seca. Sonham Fabiano e sinhá Vitória “pouco a pouco uma vida nova (…). Acomodar-se-iam num sítio pequeno, cultivariam um pedaço de terra. Mudar-se-iam depois para uma cidade, e os meninos frequentariam escolas, seriam diferentes deles”.

Vidas Secas foi publicado, em primeira edição, no ano de 1938. Há 74 anos, portanto.

O sonho de Fabiano e sinhá Vitória ainda é sonho. Os retirantes alcançaram as cidades, mas não a cidadania plena. Vivem vidas secas em favelas inóspitas e seus filhos estão vulneráveis a perigos ainda mais mortais que a fome.

Senhoras e senhores, companheiros e companheiras: é hora de realizarmos o sonho dos Fabianos e das sinhás Vitórias.

O Juventude Viva será o alicerce sobre o qual será construída uma nova realidade de inclusão verdadeira, ousada e justa.

Difícil? Sim.

Impossível? Depende de nós.

E nós, nós todos, vamos apostar nisso.

Vamos empregar toda nossa força, toda nossa capacidade, nossa unidade, para alcançar os objetivos do Juventude Viva.
Viva o Juventude Viva!

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