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Dilma debutou

Ana Dubeux- Correio Braziliense

O que faz o poder? Trata-se de pergunta para buscar resposta nas diversas teorias da ciência política e da filosofia. Fico aqui com o senso comum. É ele que grita mais alto: o poder corrompe. Mas não faz só isso. O poder, de fato, transforma. Ocupantes de cargos de chefia, políticos eleitos, técnicos de futebol, mães e pais em seus mandatos temporários como tutores de filhos, ninguém escapa. A presidente Dilma Rousseff, que assumiu o mais importante posto político do país oito décadas após as mulheres conquistarem o direito ao voto, também mudou. Às vésperas de entrar na segunda metade do mandato, debutou.

Antes julgada uma diletante na política, protegida pelo carisma de seu tutor, Dilma parece ter dançado as últimas valsas com Lula, o inventor de uma candidatura vitoriosa, que convenceu boa parte dos 135 milhões de eleitores. Nada de rompimentos e brigas. Apenas o necessário desenlace, descolamento, desvio de rota, como queiram. Assistimos ao encontro da presidente com seu modo de fazer as coisas. Podemos dizer que a chefe suprema do Executivo, passado o momento inicial à frente do Planalto, adquiriu brilho próprio, aproximou-se dela mesma, das suas ideias, de seu feitio. A experiência de comandar a nação transformou, nesse sentido, a política Dilma.

Em 20 meses de mandato, a presidente da República imprime uma marca de maneira gradual, firme e inequívoca. Não faltaram decisões de profundo impacto no debate nacional e no cotidiano dos brasileiros: a faxina que varreu ministros suspeitos de corrupção; a formação da Comissão da Verdade; a guerra com os bancos para a redução dos juros; a rigorosa crítica aos equívocos que provocaram a crise europeia; o enfrentamento com os servidores grevistas, somado a uma proposta salarial concreta, apesar das restrições orçamentárias; e, por fim, um ambicioso plano para tirar a infraestrutura nacional do sucateamento.

Mais do que surpreender aliados, a ousadia e a determinação de Dilma Rousseff desmontam até mesmo o discurso oposicionista. Não é de hoje que o mais plumado dos tucanos, Fernando Henrique Cardoso, tece elogios à presidente petista. Ainda são raros os políticos que conseguem enxergar — e admitir em público — que razões de Estado se sobrepõem a querelas partidárias ou ideológicas. Dilma é a responsável direta por esses avanços.

Se Lula autodenominava-se uma metamorfose ambulante, Dilma busca a evolução.

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