Talvez por ter experimentado de cada cálice amargo um gole, há muito não preciso separar razão e emoção para analisar detalhes que a política transforma em realidade social e coage o povo a validar como realidade única.
Muitas vezes sofrendo por antecipação e de forma mais aguda por ter “olhos de ver” fui gerando equilíbrio ao distinguir papéis sociais e históricos na convicção de que não valeria para mim render a inteligência aos projetos espúrios do poder.
Minha terra Alagoas, é amarga para quem a ama!
Pode ser muito cruel para quem se compromete com as lutas coletivas em caráter de seriedade, muito distante dos discursos de palanque e muito perto da dor, como ofício.
Neste meandro estendemos solidária e grata atitude de apoio (ainda que meramente moral) ao defensor público Ricardo Melro.
Entre os muitos assuntos que abraça no âmbito de sua função pública, existe um tema que dói mais neste instante, porque quando a enfermidade plantada nas existências humanas se torna investimento bruto de acordo com os manuseios do mercado, não importam as lágrimas, os desesperos e as solidões, estamos em liquidação da humanidade.
A chamada “fila do descaso” em questões oncológicas em Alagoas começa partindo corações.
Nas redes, o defensor praticamente grita: “ONCOLOGIA. A fila do descaso. Necessidade de mutirão”.
“Cerca de 240 pessoas aguardam há mais de 60 dias para serem consultadas e iniciarem o tratamento de câncer”.
De reflexões que nos levam a considerar a baixa qualidade de vida do povo alagoano antes do diagnóstico, como reflexo de péssimas políticas sociais, de valorização do trabalho e acesso a cuidados médicos, até chegar a um diagnóstico fechado de câncer, só conseguimos ver sacrifícios e lutas solitárias no mapa existencial comum.
Chegar ao diagnóstico significa vencer uma barreira socioeconômica gigantesca, com inúmeros períodos de atraso.
Após chegar a esta condição, o tratamento deveria ser iniciado com rigor, para fomentar esperanças e aliviar sofrimentos físicos e emocionais já instalados.
O defensor complementa: ‘Enquanto os responsáveis não resolvem, elas vão definhando em suas casas”.
Todas as alegações dos poderes responsáveis esmaecem diante da realidade posta, e quem já sentiu em suas realidades familiares este penar, sabe muito bem do que fala o defensor Ricardo Melro: “O fato é: como podem deixar uma fila desse tamanho se formar bem debaixo de seus olhos? Eu teria vergonha se fosse gestor. A situação é EMERGENCIAL”.
Infelizmente as filas multiplicam-se em várias direções de dor, deixando o povo alagoano refém das migalhas maquiavélicas das quais se aproveitam politiqueiros, arrebanhadores de votos.
O governo Paulo Dantas conseguiu aguçar o sentimento de ao “deus-dará” que já despontava no anterior, com Renan Filho.
Nosso amores, parentes, amigos, conterrâneos, e nós mesmos, fomos tornados números manipuláveis para ser utilizado em conveniências estatísticas, quando na verdade nós queremos apenas vida e saúde, para garantir em uma história já marcada por exclusões e perdas, ao menos o direito de não “definhar em casa” quando adoecermos.
Sensibilidade social será bem-vinda.