Profissionais da Psicologia na América Latina inevitavelmente lidam com as mais variadas formas de pauperização do ser humano e com a destituição compulsória da identidade política da classe trabalhadora.
No entanto, a ênfase de suas atuações tem se afastado, historicamente, da perspectiva de um sujeito humano que se desenvolve em condições dadas e específicas de uma determinada regionalidade, que, por sua vez, contém seu próprio conteúdo sócio-histórico e revela variadas facetas da alienação e da exploração do trabalho.
Se opondo a esta visão a Psicologia interage e aceita a ideologia dominante que flui do imperialismo capitalista a partir de concepções apolíticas ou despolitizantes do sujeito humano. Os sujeitos aqui são desenraizados de seu contexto histórico de modo que se torna fácil ignorar a crítica das injustiças sociais que a maioria das pessoas, em Alagoas por exemplo, vive.
Como característica de Alagoas, podemos identificar a dificuldade de ultrapassar tendência arcaicas do campo da política que insistem em protagonizar coronelismo, concentração fundiária e de renda, violência estatal contra os mais pobres, controle dos espaços de poder por uma burguesia agrária com ares aristocráticos e vários dispositivos de contenção das demandas populares a despeito da ordem burguesa.
O respaldo político e o substrato ideológico de manutenção do status quo encontram morada nos corações pequeno-burgueses e da classe média alagoana que sustentam uma admiração por um “horizonte civilizatório” oriundo dos senhores cultos, o “doutorzinho” e o “patrão”, donos legítimos do poder e da serventia voluntária das classes subalternizadas.
A despeito disso, segue a formação em massa de psicólogos que não discutem a realidade local, ou pior, a ignoram solenemente. Esta tendência não é novidade no Brasil e não seria diferente em Alagoas, mas o mais preocupante em tudo isso é o silêncio conivente que se institui na composição da categoria.
É a realidade criada por aqueles que odeiam Ana Bock e dizem, com arrogância característica dos “antigos na profissão”, que ela é “fraquinha” e recomendam a leitura minuciosa de autores americanos e europeus pois são mais “contundentes”.
O fato é que os movimentos da história nos levaram a este momento onde o desemprego e a falta de oportunidades se somam a uma completa submissão do conhecimento psicológico a adequação e reiteração do modelo capitalista neoliberal.
Um exemplo disso é o reposicionamento da categoria “trabalho” na mais completa indulgência a exploração burguesa, ignorando a luta de classes e chamando todos de “colaboradores”.
Nas últimas décadas, no entanto, impõe-se um horizonte histórico repleto de dificuldades a Psicologia que se propõe crítica. Rever práticas e superar tendências não é fácil, mas desafiador. Sobretudo quando se trata de entender a conjuntura do trabalho e do trabalhador em tempos de acirramento da luta de classes no Brasil.
É neste momento que a burguesia institui os fundamentos de uma ordenação societária que se alia aos centros do capitalismo mundial para conter os avanços do povo, reduzindo e comprimindo a reação dos trabalhadores a ofensiva neoliberal.
O contexto de nossas lutas precisa ser outro e a construção destes pormenores requer tempo, organização e trabalho. Estas sendas, porém, sempre cria quem lute e desprenda a energia necessária para a construção de uma sociedade melhor e mais justa.
Saiba mais:
LACERDA JR, F. Capitalismo dependente e a psicologia no Brasil: das alternativas à psicologia crítica. Teoría y crítica de la psicología, n. 3, pp. 226-263.