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Desafios de um pastor que não é “bancada da bíblia”

Delicado debate precisa ser feito na atual conjuntura brasileira, sobre a mistura de forças entre religião e política partidária, econômica, de Estado.

Os afoitos gritarão que religião e política não se misturam, mas todos sabemos que isso não é verdade.

Desde o conceito macro de política, que tem raízes filosóficas e sociológicas, ao comezinho fato da participação eleitoral e/ou eleitoreira, quando líderes religiosos se manifestam; e, não estará neste aspecto nenhum tipo de erro, haja vista, fazermos parte de um sistema social que de uma maneira ou de outra se interliga às políticas do mundo.

Quando isso se transforma em problema? Quando o sistema político passa a orientar ações a partir de parâmetros religiosos.

Neste caso, tudo muda. Porque quem elege um modelo para si, o fará em detrimento de outros, e as casas dos poderes institucionalizados precisam manter suas naturezas laicas para atender aos propósitos da diversidade religiosa que a constituição brasileira protege.

Termos com naturalização uma dita “bancada da bíblia” na Câmara Federal, por exemplo, é uma aberração que não deveria existir nem nos discursos, tomara nas atitudes declaradas em tribuna.

O cidadão religioso pode declarar seu apoio a candidatos. Se este apoio representar uma controvérsia às suas pregações de fé, são outras vertentes de análises que precisam ser feitas também, como tem sido o caso da adesão de religiosos que se dizem cristãos a ideologias políticas violentas, excludentes, de caráter nazifascista e similares.

Hoje no Brasil temos dentro do meio que se declara cristão inúmeras situações que podem ser enquadradas como heresia, com pastores, padres, e outras denominações de lideranças religiosas defendendo a morte, uso de armas, condutas antivacinas, destruição do dissidente ideológico, etc. Assim podem ser considerados, como hereges, não por causa dos templos e denominações aos quais se vinculam, mas pela imagem de Jesus Cristo, o pregador da igualdade, da equidade de direitos, do respeito aos diversos, da qual se utilizam para existir social e historicamente.

Poucos exemplos de religiosos progressistas, que assumem nas questões sociais e humanitárias uma interferência de vivência religiosa como prática de libertação, estão no cenário político-partidário. Talvez o ícone de força nesta representação contemporânea a nível nacional, seja o Pastor Henrique Vieira, que representa um segmento evangélico, mas não está deputado federal da bancada da bíblia.

Mesmo tendo em sua fala aberta o teor da fé que professa, sua participação como político eleito não tende a impor os parâmetros da igreja no espaço laico, onde todas as discussões referentes ao social podem e devem passar sem crivo corporativo de nenhuma ordem.

As tribunas legislativas deveriam discutir leis, estas baseadas em parâmetros societários isentos de credos religiosos. Isto é pertença dos templos.

Mas a extrema direita se aproximou das falas teológicas conservadoras e misturou interesses na base do capitalismo mais selvagem, evocando simbolismos do antigo testamento, que foram criticados pelo próprio nazareno.

Outro fenômeno oportunista que tem agravado o cenário político nacional é o estreitamento destes elementos com o militarismo. A quantidade de deputados federais com patente tem sido espantosa, quanto inútil às discussões sérias deste país. Exibindo truculência e jargões religiosistas, mostram a ignorância quanto às funções legítimas que deveriam executar no parlamento.

Deste modo, reconhecendo que a mistura de interesses torna a situação política do país muito delicada, apontamos para o entendimento político como  algo que mereça e precise estar vinculado majoritariamente à laicidade, e isto não será impedimento para elegermos líderes políticos/religiosos progressistas, que saibam respeitar essa fronteira legal, além das pautas morais das tradições.

A perspectiva histórica construída pelo Pastor Henrique Vieira poderá confirmar isto em breve tempo, pois como ainda se encontra no primeiro mandato, observamos o fenômeno com atenção.

 

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