Repórter Nordeste

Depoimento pessoal: entre a depressão e a poesia

Hoje eu partilho algo extremamente pessoal, como testemunho de que a vida vale a luta!

Desde o fatídico ano de 2010 luto para sobreviver à depressão e conseguir viver.

O assassinato de um filho na flor da idade não é algo que o tempo simplesmente apaga, embora a sociedade espere que isso aconteça.

Mas quando a dor não é na pele da gente, teorizar é a coisa mais fácil do mundo. Contudo, a realidade é bem outra, quando o coração é rasgado ao meio como se fosse um papel barato encontrado na rua.

Sim, o assassinato nos faz impotente! A violência contra aqueles a quem amamos nos fere mais profundamente do que quando é cometida contra nós mesmos. Principalmente quando somos pais de vítima.

Após a triste perda, passei por inúmeras situações de agravamento da dor. A sociedade “benevolente” também deu cota de malefício, com comentários desprezíveis, que tem a vítima como culpada. Desde aqueles que falavam do “carma” até os mais baixos, do tipo “é melhor enterrar do que vê preso”.

Um menino que nunca fez mal a ninguém recebeu tais sentenças no pós-morte, de pessoas que na maioria das vezes, se associam a criminosos de colarinho branco, que são responsáveis por genocídios, através de desvios homéricos e outros crimes de lesa pátria.

Inúmeras acusações descontextualizadas foram elaboradas, até eu mesma fui acusada de tráfico pela polícia alagoana. Falo isso abertamente porque entre os absurdos ditos, este foi significativamente relevante para mostrar o caráter espúrio de muitos membros da segurança pública local.

Como não vergar?

Eu verguei vertiginosamente!

Desaprendi a dormir e a comer. Isso mesmo! Tive ajuda médica para regular estas coisas tão básicas na vida de uma pessoa. Reaprendi.

A partir de então a fibromialgia passou a morar no meu corpo. As dores não estavam apenas nos sentimentos, mas na conjuntura fisiológica, acossada pela realidade amarga.

Busquei todas as ajudas possíveis, porque precisava continuar lutando para defender a memória do meu filho! Consegue imaginar a força que esse desejo mobiliza no espírito de uma mãe?

Desde então, o mundo normal não me doma. Até acato os rótulos que ele me impõe como política da boa vizinhança, para que me deixem seguir em paz. Porque paz passou a ser sinônimo de continuidade, apesar da desumanidade que me cruzou a estrada neste percurso longo.

Entre a emoção alquebrada e o corpo dolorido, escapou meu espírito, e com ele, o intelecto que se transformou em instrumento de combate à violenta hipocrisia do cidadão de bem e seu aparato de destruição, formalizado em leis oportunas e moralismos.

Meu caminho de salvação, sem dúvida, foi e ainda é a escrita!

Escrever essa sociedade que mata sorrindo e enterra desejando o bem, me faz forte em capacidade de sobrevivência!

Mas a luta é diária.

O sorriso é uma conquista. Todo tipo de alienação eu tenho recusado, e não sento em todas as mesas, nem trago todos os goles. Esta seletividade necessária me fez encontrar o silêncio violentado de inúmeras mães, que por sua vez me fazem entender o valor de um abraço solidário.

Assim, entre estes sorrisos mansos que exibo ou posturas políticas rígidas que sustento, a mulher e mãe que sobrevive em mim luta todos os dias para recomeçar.

Apesar dos boicotes, perseguições veladas ou não, e outras demonstrações de inferioridade presentes no espírito humano, quem me encontrar nos caminhos da vida, se olhar devagarinho vai perceber que há poesia em meus olhos.

Porque em mim, a saúde cambaleou; a vivacidade diminuiu e o emocional fraquejou, mas nunca morreu o amor. Porque amor não morre!

Sair da versão mobile