De Stonewall à Parada LGBT de Maceió, gays são penalizados pelo Estado heterossexista

A enorme confusão em torno da 21a Parada LGBTQIA+ de Maceió acabou na Central de Flagrantes, com organizadores do evento sendo detidos pelo Estado até afirmarem que seguirão a decisão tomada pela justiça de Alagoas em favor da Prefeitura de Maceió.

A decisão judicial para a modificação do trajeto do evento foi dada na noite de ontem (25/11) pelo juiz plantonista Jamil Amil Albuquerque.

Em nota à imprensa, a assessoria de comunicação da Prefeitura frisou o ocorrido:

“A princípio, a organização do evento se negou a cumprir a decisão judicial, um de seus líderes foi conduzido à Central de Flagrantes e liberado logo após afirmar que a parada seguirá pelo trajeto liberado pelo município e validado judicialmente.”, disseram.

Não se trata apenas de uma descrição de fatos, mas pode ser o início de algo perigoso e que pode se tornar sistemático: a perseguição a lideranças do movimento LGBT em Maceió.

Durante a semana, exposições pública foram feitas ao ativista e jornalista Josenildo Correia, articulador de longa data pelos direitos da população LGBT em Alagoas. Iniciou-se uma série de ataques pessoais nas redes sociais e o colocando à disposição do “tribunal da internet”.

Um vídeo que circulas nas redes sociais mostra o momento em que o jornalista é detido pela Guarda Municipal de Maceió na manhã deste domingo (26).

Veja o vídeo: 

Guerra política? Confronto ideológico? Homofobia institucional explícita e implícita? Acredito que um pouco de tudo. Não é novidade para ninguém que ética é descartável na política.

Mas aí trabalhar a imagem de ativista pelos direitos humanos como “bandido” e taxar sua luta como rebeldia contra o Estado é um atestado da dinâmica heterossexista no seio da política institucional promovida por JHC.

Esta é prática recorrente na extrema-direita, em que se afina e repousa o prefeito e, ao que parece, sua campanha contra minorias políticas.

No início da década de 1960, em um momento em que as relações entre pessoas do mesmo sexo eram consideradas criminosas nos Estados Unidos, o Stonewall Inn, um bar localizado no moderno bairro de Greenwich Village, tornou-se um local frequente de encontro para a população LGBT+.

No entanto, na madrugada de 28 de junho de 1969, a polícia decidiu tomar uma atitude e invadiu o bar, agredindo violentamente seus frequentadores e detendo 13 pessoas.

Essa ação da polícia resultou rapidamente em uma revolta massiva. Os manifestantes responderam à violência erguendo uma barricada para se proteger dos policiais e um deles incendiou o local onde estavam posicionados.

A Revolta de Stonewall se tornou um símbolo de libertação para a comunidade LGBT+ e uma demonstração de orgulho para os indivíduos homossexuais.

Após o evento, a famosa “barricada de defesa” ganhou destaque em todo o país e deu origem à fundação da Frente de Libertação Gay dos Estados Unidos.

Será que um confronto a la Stonewall seria suficiente para a frear a ânsia, promovida pelo Prefeitura, em desmoralizar o Movimento Gay de Alagoas?

De que pressuposto parte a Prefeitura para nos fazer acreditar que a política adotada pelo município promove respeito à comunidade?

O fato é que isso nos posiciona e nos torna atentos ao que representa o conservadorismo oligárquico em Alagoas e sua tendência à normatização dos corpos e as diferentes orientações afetivas e sexuais.

No nazifascismo, gays eram levados aos campos de concentração como política de Estado e tomados como perigosos à ordem. Por que agora, às vésperas da Parada, tentam manchar a imagem de Josenildo e do Grupo Gay de Alagoas?

Veja a nota da Prefeitura de Maceió disponibilizada à imprensa:

NOTA

A Secretaria Municipal de Segurança Cidadã de Maceió informa que para garantir a continuidade dos festejos natalinos e outros eventos na orla, como Maceió com Respeito e a Marcha da Maconha, a Justiça determinou que o percurso da Parada LGBTQIAPN+ neste domingo à tarde seja entre a Avenida Sílvio Carlos Viana (em frente à Praça Sete Coqueiros) e o estacionamento do Jaraguá.

Levou-se em consideração, como prioridade, o público vulnerável (crianças, idosos e pessoas com deficiência).

A princípio, a organização do evento se negou a cumprir a decisão judicial, um de seus líderes foi conduzido à Central de Flagrantes e liberado logo após afirmar que a parada seguirá pelo trajeto liberado pelo município e validado judicialmente.

A decisão judicial foi dada ontem à noite, pelo juiz plantonista Jamil Amil Albuquerque.

De modo que, o Natal de Todos Nós e outros eventos seguem hoje sua programação normal, assim como a comunidade LGBTQIAPN+ fará seu evento.

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