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Datafolha mostra um Brasil que quer falar sobre o aborto

Pesquisa Datafolha mostra que os brasileiros estão divididos quanto ao aborto.

44% são a favor de que a mulher possa decidir o futuro da própria gestação. 52% são contrários.

Dentro destas bolhas as opiniões são ainda mais divididas.

Para os que são a favor do aborto, 25% concordam completamente com a ideia. 20% até concordam, mas parcialmente.

Entre os que não concordam, 39% tem certeza desta opinião. 13%, não.

Na campanha, Lula foi obrigado a expor sua opinião: contra o aborto mas como tema de saúde pública.

Fanáticos religiosos embalados pelo candidato da extrema direita Jair Bolsonaro trouxeram o tema para as eleições. E embalado numa capa sensacionalista: a esquerda iria destruir o Brasil, matando bebês

Era mentira.

Em 1977 o Brasil regulamentou o divórcio. Havia um fantasma, entre muitos, de que isso significava a degeneração da família tradicional brasileira.

Em 2011, o STF reconheceu as uniões estáveis homoafetivas. E, de novo, os fundamentalistas se ergueram para dizer que era o fim da família tradicional.

Sobre o aborto, cruzados mantém erguidos os seus tridentes e tochas. Usam o medo, a ignorância, a desinformação para gerar repulsa e ódio na população.

Uma situação que piora quando a esquerda cirandeira usa o aborto como bandeira de independência da mulher.

O tema é delicado e merece ser tratado numa conversa franca, aberta, sem tabus.

Em 2016, o padre Luiz Carlos Lodi da Cruz, de Goiás, foi condenado pelo STJ a pagar R$ 60.000 a uma família por impedir um aborto autorizado pela justiça.

Laudos médicos apontavam que o bebê sofria de uma síndrome rara e não sobreviveria fora do útero. A mulher estava na mesa de cirurgia quando os médicos receberam uma liminar, conseguida pelo padre, proibindo o aborto.

Dias depois, a mulher pariu o bebê, que morreu em seguida.

A mãe seria uma assassina e o aborto comparado ao nazismo, dizia o padre.

Ele usou o obscurantismo e a conveniência para justificar um casuísmo. Não estamos falando de fé. E sim de manipulação política.

Adivinhe em quem o padre votou para presidente da República? Naquele que matou 600 mil pessoas por negar vacina  e incentivando crianças a usarem armas.

Aliás, foi Bolsonaro quem apresentou projeto de lei, como deputado federal, proibindo o SUS de atender vítimas de violência sexual.

A vida é sagrada, diz o padre. Não para todos, mostrou Bolsonaro em exemplos fartos e denunciado até por crimes contra a humanidade.

Existe um Brasil que a maioria de nós, homens ou mulheres, desconhece. Brasil que pratica aborto clandestino, que mantém abertas clínicas de luxo para expulsarem os fetos indesejados dos herdeiros da política nacional ou gente de bastante dinheiro.

Quem dá voz a este Brasil? Quem discute a saúde destas mulheres? Quem se preocupa com elas? Quem as acolhe?

É este Brasil, escondido debaixo das camas e mulheres destruídas por uma moral tóxica, que quer mostrar o seu rosto. O momento, segundo o Datafolha, é este.

 

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