Eu a vi caminhando como quem vagava, equilibrando o volume de tempo que carrega, no assoalho escorregadio de um shopping. Passos inseguros, olhar de quem buscava sem achar mísero encontro de reconhecimento.
O tempo do poder lhe escapou dos dedos, que outrora seguraram decisões com o ímpeto de quem segurava chicote. E chicoteou muitas histórias.
No auge, servia. No topo, oprimia. Ocupava cargo mediano, com influência imediata em milhares de vidas. Sentia a posse da negação como trunfo, amava a falsidade dos que lhe acompanhavam a rotina em busca de outras migalhas. Não via.
Por mim passou como brasa, queimou possibilidades e feriu com desdém outras necessidades. Sobrevivi, como outras centenas.
O opressor estamental não percebe o quanto fortalece a resistência de quem não consegue governar.
Por osmose, se iludem com a força do sistema, que não se transfere por osmose. Ou seja, são acessórios temporais do poder, nem um risco a mais do que isso. Tudo o que esborra desse fato, é ilusão de quem ostenta o que não possui.
Fortalecida pela experiência e transitando em outros patamares de vivências, passei muitos minutos observando a solidão que caminhava trôpega, sem interessar a mais ninguém.
Em outros tempos, por certo, uma falange de simpáticos lhe cercaria. Não iria tomar aquele café sozinha. Não sairia olhando pelo entorno, tateando com a visão um rosto que lhe sorrisse.
Não me aproximei, pois esse encontro comigo lhe daria um olhar compreensivo, mas isento daquilo que buscava. Eu não reconheceria autoridade tardia, curvada e emborcada; eu via decadência em quem já foi acessório útil de um poder opressor, e oprimiu.
Segui degustando minha salada e pausadamente me deliciava com o incrível sabor de ser livre.
Duas realidades incompatíveis que um dia se cruzaram pelas instituições maceioenses.
Guardei meu olhar e firmei meus objetivos, sabendo o quanto acertei em sobreviver sem ceder.