Crônica: Cartas da chuva

Lucas de Oliveira Leite- É estudante de Jornalismo

Olá, São Pedro.

Boa parte do ano eu acho que você anda esquecido do meu povo.

O sertão não vê água, a plantação não cresce, uma seca só.

O lavrador bate em retirada, em busca de dinheiro pra sustentar a sua família.

Mas boas novas chegaram, pedrinho.

Afinal, posso lhe chamar assim agora, né? Nossa amizade está reatada, é chuva que não acaba mais!

É … é chuva que não acaba mais.

Sabe pedrinho, não que eu esteja reclamando, mas acho que essa nossa amizade anda nos sufocando.

Sua chuva anda me sufocando.

É um abafado só, um calor miserável e mesmo assim, é chuva dia e noite.

Sua chuva anda matando minha plantação, anda matando meu povo, destruindo estradas, derrubando casas, tirando o pouco que nos resta.

Eu soube até que semana passada, a burrinha da mulher do zé da esquina foi embora.

Desculpe, a mulher dele não é burra, acho que você me entendeu errado.

Então doutor Pedro, acho melhor mantermos distância, pode levar a sua chuva embora, mas não ache que estou cortando relações, acho apenas que preciso de um tempo.

Quem sabe com o tempo, aquele mesmo que faz os ventos virarem e o céu escurecer, o senhor não chegue mais “devagarinho”, com uma chuva fraca batendo à minha porta, molhando minha plantação, e me convidando para sentar à rede para uma boa conversa.

Então Pedro, espere que o senhor me entenda e não feche o tempo para nossa relação. Vou ficando por aqui, lembranças para São João e Santo Antônio que vêm chegando por ai.

Abraços, do seu amigo, Nordestino.

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