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Crítica ou Barbárie: Psicólogos(as) em movimento

As produções científicas, filosóficas e literárias que passam pelas nossas mãos para pensar a Psicologia, demonstram a potencialidade de revelar caminhos inerentes a leitura e a aprendizagem. A dinamicidade das conclusões e dos percursos teóricos que são construídos por nossos colegas pesquisadores e militantes por uma Psicologia mais significativa para a sociedade, mostram que é através dessa leitura interessada, capaz de esmiuçar as tendências, os percursos e posicionamentos ideológicos que conseguiremos propor uma organização da categoria em direção ao fortalecimento.

Logo, o engajamento construtivo com as necessidades da profissão não pode apenas manifestar os caminhos ainda não percorridos e as dificuldades a serem enfrentadas, mas estar atento ao rincão de perspectivas onde a crítica se soma ao movimento dialógico, necessariamente social, portanto, relacional, que é aprender em conjunto e ser, sobretudo, solidários.

Quando a conjuntura torna nossas alianças difíceis e nossos caminhos tortuosos, o processo de reconhecimento coletivo das dificuldades não devem irromper em fatalismo, em exaltação dos problemas, mas, ao contrário, propor caminhos e a oportunidade de concretiza-los. No capitalismo as crises, o desemprego, as dificuldades de reprodução material dos sujeitos, estão em constante indefinição e instabilidade e isto, ao longo de história, coloca aos trabalhadores alternativas que fazem da solidariedade uma resistência, uma práxis.

Enquanto alguns colegas reinventam-se a partir de uma estratégia mistificadora, ideológica e individualista, isto é, tomam como ponto de partida uma a saída liberal, com foco na “autonomia individual”, empreendedorismo e autopromoção através de impulsionamentos de postagens e perfis nas redes sociais, o que podem os tantos outros que precisam conviver com a precarização dos vínculos trabalhistas e condições de trabalho, desemprego crônico e desmonte dos serviços públicos que abrigam uma parte dos profissionais psicólogos?

Se o mercado de trabalho, em virtude das crises do Capital, coloca as saídas na disputa entre nós o que podemos fazer para encontrar caminhos onde a disputa é pela coletividade e por emancipação do trabalho e libertação do conhecimento psicológico? Ora, se nossa luta é a luta dos trabalhadores por qual razão nos vemos tão distantes deste terreno?

Se em algumas regiões do Brasil, a partir dos estudos que buscaram lançar críticas à Psicologia hegemônica, os psicólogos puderam se aproximar dos movimentos sociais, estudantis e profissionais, o que houve de significativo na história da Psicologia em Alagoas? O que precisamos entender, talvez, sejam as raízes, a história e a pouca concretude que as experiências de grandes pesquisadores e autores de São Paulo têm aqui em um dos estados mais pobres do país.

Na realidade concreta destas terras o universo elitista das universidades e o caráter místico dado ao Psicólogo ou como “louco”, ou como “indesejado” ou como “doutor” tornam complexas as teias de poder que inviabilizam flexibilidade de atuação. Ou somos clínicos tradicionais, ou somos testólogos, ou aceitamos trabalhar sob condições precárias e subservientes as oligarquias e as artimanhas da política local, ou somos desempregados per se.

Desta forma, as “tretas” da Psicologia por dissidências teóricas ou áreas de atuação se tornam pequenos detalhes na conjuntura política e econômica que joga ladeira a baixo as conquistas epistemológicas, éticas e políticas da Psicologia nacional. Na verdade, podem ser lidas como entraves pequeno-burgueses e da classe média na compreensão dos “seus” sujeitos, conscientes ou inconscientes, sociais ou biológicos, mentais ou comportamentais.

Aqueles que saem das universidades e tentam se inserir no apertado mercado de trabalho em Alagoas ou já tem infraestrutura de trabalho garantida, acesso a espaços clínicos, clinicas particulares e multiprofissionais, ou garantem seus espaços através de laços com o serviço público, ou contatos com escolas particulares, o que é um raridade e geralmente está ligada a escolas de renome da burguesia local, ou na luta por espaço na academia e grupos de pesquisa ligados a tendências críticas “do momento” e deixam a realidade concreta como aporte para seu pensamento e atuação.

Sem falar na crença comum que temos uma profissão “do futuro” já que, por razões cada vez mais óbvias, as pessoas estão “sofrendo mais”. Aqui, aparentemente, na tendência “natural” das coisas seremos mais valorizados na sociedade como “o tempo”. As palestras que vez ou outra chamam os psicólogos enfatizam a individualidade como o principal foco da “economia psicológica” e da “vida saudável” e de como é possível controlar “variáveis da vida” e “situações existenciais”, não deixando espaço para a dimensão social e econômica que determinam causas e consequências do impacto subjetivo de eventos como a pandemia, por exemplo.

No entanto, os referenciais da Psicologia Crítica, Psicologia Social Crítica, Psicologia Social Comunitária, Psicologia Social do Trabalho, etc, ficam nos muros das universidades, nas citações das monografias e artigos, longe da vida comum, do cotidiano que é fonte de pesquisas e das “linguagens”, dos “discursos” e dos “sentidos”, semiologizando o real para, assim, perder de vista a concretude das relações de opressão que atingem nosso povo com violência política e institucional.

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