Crise política: ninguém consegue criar saídas

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O Brasil é hoje um país sem alternativas para escapar à crise política e institucional, instalada em um cenário onde nenhum partido consegue criar uma saída ao descrédito que afeta grande parte da população. A  análise de especialistas ouvidos pelo Portal da Band.

Há 13 anos no comando do país, o PT tem um governo devastado por denúncias de corrupção, paralisado por uma economia em sérias dificuldades e sem uma base aliada forte que o apoie. Ainda assim, embora a possibilidade de um impeachment ou renúncia da presidente Dilma Rousseff se desenhe cada vez mais clara no horizonte, o partido não acabou, como explica Aldo Fornazieri, diretor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fesp-SP).

“Por mais terrível que seja a situação do PT nesse momento, não dá para dizer que é um partido morto. Até porque, por incrível que pareça, apesar da gravidade da crise, não estão se fortalecendo alternativas”, explica o cientista político. Apesar disso, ele ressalta que a legenda terá dificuldade para se recuperar, porque teria de “mudar drasticamente de atitudes”, o não fez até agora.

Para Fornazieri, o tucano Aécio Neves, tido como o nome mais forte da oposição, “não consegue alçar voo” em um PSDB fragmentado, com brigas internas – entre elas, ele destaca que José Serra,  uma das lideranças do partido, “toda hora ameaça ir para o PMDB”.

O PMDB, por sua vez, corre o risco de ver o vice-presidente Michel Temer cair junto com Dilma caso a candidatura da chapa seja impugnada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Outros nomes de peso da sigla, como o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e do Senado, Renan Calheiros, também estão relacionados à corrupção investigada pela Operação Lava Jato – o primeiro já é acusado pela Justiça, enquanto o segundo ainda é investigado.

“No campo da esquerda, a Marina Silva (Rede Sustentabilidade) meio que desapareceu da conjuntura, o PSOL não consegue se tornar um partido grande, representativo. Ciro Gomes (PDT) também não está se apresentando como um caminho para sair dessa crise, e não está surgindo nada como um Podemos ou um Syrisa, como na Espanha e Grécia”, enumera o especialista. “A singularidade dessa crise é exatamente a fragmentação total do sistema político partidário e a incapacidade dos políticos de buscarem uma saída”, pontua.

Descrédito popular e manifestações

“A população não confia mais nas instituições políticas, não confia mais nos partidos. A parte da sociedade mais lúcida percebe que existe um vácuo político, que não existe alternativa. Essa é a situação dramática do Brasil”,  resume Aldo Fornazieri.

Para o coordenador do curso de Marketing Eleitoral da ESPM, Victor Trujillo, essa descrença com a política  se refletirá claramente já nas eleições municipais deste ano. “Teremos novamente uma elevação no número de abstenções”, aposta. “Nenhum (provável candidato) empolga a população, que não vê alguém com a credibilidade, com estatura diante dos desafios.”

Esse cenário também se reflete nos protestos agendados para o dia 13 de março, na opinião de Trujillo, que não vê a insatisfação com o governo como a principal motivação para os atos.

“As manifestações de domingo têm relação principalmente com a indignação da população com a corrupção. Pelo menos metade das pessoas que vão às ruas vão protestar contra a corrupção e não especificamente contra o governo Dilma”, afirma.

O especialista diz que o juiz Sérgio Moro, da Lava Jato, “personifica” o bem, a Justiça, e é o grande super-herói da atualidade para a massa. “Nesse momento, a intenção é apoiá-lo e acabar com a corrupção. Essa é a crença do eleitor, que pensa assim: prenda alguém, culpe alguém. Se a classe política está comprometida, pode prender o Lula, a Dilma, quem quiser. Na cabeça do eleitor, ele quer ver a consequência, quer ver o resultado. Para ele, não importa se é o PT, o PMDB, o PP ou o próprio PSDB.”

“Secundariamente as pessoas pedem o impeachment. A parte insatisfeita com a economia, a crise, o desemprego, essa parcela da população enxerga a necessidade de substituir o governo. Pedem o impeachment  com a lógica do futebol: o time só perde, troca o técnico”, diz. “Há também a rejeição histórica ao PT de uma parcela, que permanece igual e cuja voz ganha força nos protesto.”

O cientista político Aldo Fornazieri ressalta que o risco nesse momento é a incitação à violência, tendência que ele detecta em parte daqueles contrários ao governo e ao PT. “As manifestações são legítimas, tem que se preservar o direito de fazê-las, mas é preciso combater esse tipo de atitude violenta”, alerta.

Nesse sentido, ele aponta que os Ministérios Públicos de São Paulo e Federal demonstraram “completa irresponsabilidade”, com o pedido de prisão preventiva do ex-presidente Lula e o mandado de condição coercitiva realizado na semana passada.

“É uma desmedida, uma perda de razão que vai incitar a violência”, critica, citando que juristas, inclusive ligados ao PSDB, como o ex-ministro José Gregori que condenaram os procedimentos. “É um fato gravíssimo que os ministérios públicos se tornaram o centro de fomentação da violência política no Brasil.

Reflexo futuro da crise

Se a população dá mostras claras de descontentamento, a tendência não é que haja um diálogo, na opinião do sociólogo Francisco de Oliveira, que participou da fundação do PT e do PSOL.

“Diálogo só se dá em época de eleição, quando o povão é chamado a se expressar. Então a política se move autonomamente, só de tempos em tempos ela é referendada por decisões populares, que na verdade são encaminhadas”, afirma. “É uma lenda que a gente gosta, mas não existe diálogo com o povo.”

Oliveira diz que o Brasil tende a seguir o modelo  dos Estados Unidos, não da Europa social-democrata, “onde a política ainda tem importância”. “A gente tende para os EUA subdesenvolvido: de quatro em quatro anos, republicanos e democratas se enfrentam. Passou, a vida volta ao normal.”

Segundo ele, a consequência do conturbado cenário atual será justamente um afastamento ainda maior da política do centro dos interesses cotidianos dos brasileiros. “A crise vai conduzir a política para uma coisa sem relevância, que não tem importância para a vida do povo. Esse vai ser o resultado a longo prazo”, sentencia.

 

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