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Crescimento de 7,2%? O que está por trás dos números do PIB, alardeados pelo governo?

Desde o final de outubro, o governador Paulo Dantas (MDB) espalha a novidade: o ano de 2023 terá crescimento no PIB de 7,2%.

Números que animam a gestão, em meio a cobranças principalmente na área de saúde: fornecedores e hospitais reclamam de atraso nos pagamentos. E Dantas acelera eventos, encaixando principalmente empresários dispostos a investirem no Esta

Na última terça, o Grupo Veolia, em parceria com a Braskem, convidou Dantas para inaugurar uma térmica renovável em Marechal Deodoro, gerando 200 empregos e substituindo gás natural por vapor gerado a partir de queima de madeira de eucalipto.

Neste dia, voltou a repetir o crescimento do PIB de Alagoas para 2023: 7,2%.

Há duas semanas o Repórter Nordeste investiga estes números com o apoio de 2 economistas. Veja as conclusões:

  • O Governo diz que esta projeção é do Banco do Nordeste. Em verdade, é da LCA Consultores, propagada pelo banco.  Foi divulgada em setembro pelo Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste – ETENE, no Cenário Macroeconômico Estadual ALAGOAS;
  • A apresentação em Power Point tem 34 páginas (veja aqui). Na 11a, no Crescimento Econômico – Desempenho Setorial – Alagoas, a LCA “chuta” na composição setorial do PIB 2023;
  • Em 2020, por exemplo, segundo o IBGE, a agropecuária teve participação, na composição do PIB alagoano, de 22,1%; a LCA diz que em 2023 será de 30%. Não explica como o setor terá um crescimento tão grande, levando em conta que os anos anteriores as coisas andaram bem lentas: 2019, 17,8%; 2018, 16,6%, 2017, 17,8%;
  • A indústria, em 2020 e de acordo com o IBGE, teve participação de 12,9%. A LCA fala que em 2023 será de 10%, dado estranho levando em conta os anos anteriores: 2019, 12,1%; 2018, 12%; 2017, 12,6%;
  • Por fim, o setor de serviços compôs 65% do PIB alagoano em 2020, diz o IBGE. Para a LCA, em 2023, vai representar 60%. Em 2019 foi de 70,1%; 2018, 71,4%; 2017, 69,6%.

Por que a consultoria “chuta”? Porque os últimos dados do PIB são do ano de 2020. Portanto ainda não foram fechados os anos de 2021, 2022 muito menos 2023.

Daí vem as especulações.

Vamos usar os próprios números da Secretaria da Fazenda, divulgados em 22 de setembro: Alagoas lidera o ranking de crescimento do Brasil em 2023. De acordo com a Secretaria, o PIB, após registrar queda de 4,2% em 2020, ano da pandemia, tem crescimento projetado em 2022 de 3%.

Como um PIB 2022 projetado em 3% vai crescer 7,2%, somente um ano depois?

Matéria da Gazeta de Alagoas também mostra os dados do último PIB divulgado: o de 2020, com recuo de 4,2%.

O banco Santander, em 28 de setembro de 2022, estimou que o PIB 2022 de Alagoas “é um dos destaques do Nordeste e deve crescer 4,8%”. Portanto, bem abaixo dos 7,2% projetados pela consultoria via BNB.

Outro lado

Perguntamos ao governo: como ele estava calculando o PIB de 2023 se os PIBs dos anos de 2022 e 2021 ainda não foram fechados? E qual mudança econômica Alagoas registrou que justificaria o crescimento de 7,2% do PIB em 2023?

Resposta da Secretaria de Planejamento: “Esse PIB não foi estimado pelo Governo de Alagoas, mas sim um estudo do Banco do Nordeste. Nesse caso, as dúvidas sobre as estimativas, devem ser esclarecidas com a equipe do Banco do Nordeste”.

Segundo o Boletim Focus, do Banco Central (divulgado em 19 de setembro), Alagoas deve puxar o PIB no Nordeste, com uma taxa de 6,9%.

“Um dos fatores que contribui para essa performance é o efeito dinamizador do investimento público. Em 2023, o governo do estado projeta um total de R$ 14 bilhões, mantendo Alagoas como uma das unidades da federação com maior percentual da receita corrente líquida (RCL) destinado a investimentos”, explica o Banco do Nordeste. (mais aqui).

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