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Covid-19: evangélicos do interior não ficam em casa

Como cientista social tenho acompanhado e analisado os comportamentos do povo interiorano de Alagoas, onde as políticas públicas mais conhecidas passam pela campanha eleitoral permanente e seus cabrestos mais a força coercitiva do Estado.

No mais tudo é favor. Tudo é dívida. Tudo é perseguição e guerra psicológica. Tornando o território da fé o mais aberto para receber aqueles que desejam escapar do abraço dos bares e vícios outros, que também são espaços de agregação.

Deste modo, o estouro maciço do evangelismo se manifesta com os perfis de igrejas em cada rua, disputando presenças e para isso investindo cada vez mais na psicologização da crença como recurso de sobrevivência ao mundo.

Nossa crítica é sensível, pois sabemos que o “mundo” possível a muitas destas pessoas é excludente, grosseiro e violentador de sonhos; por causa deste modus operandi da política partidária, fugir para um “paraíso” próprio se tornou maneira peculiar de agregar com irmãos em similar ideal de sobrevivência social.

Resumo em tempos de Covid-19: as igrejas não aceitam a quarentena, o dias de isolamento social, e acreditar no vírus se tornou uma simbólica “negação de Cristo”.

Estamos em uma das fases mais importantes para o retardo do contágio, em benefício da coletividade além de nossos próprios corpos – mas o individualismo que foi espalhado como tônica de uma fé seletiva, pautado por uma ideia de arrebatamento contratado com a igreja e outras conduções de mentalidade fincadas no psiquismo oprimido/opressor dos que já acatam a morte em nome da vida desde que Bolsonaro espalhou esta pestilência pelo país, resolveu continuar negando a ciência.

“Feridos” por Jesus e pelo carnaval de 2020, estas pessoas condenam programas de TV, escolas de samba, mídia, e se julgam “ungidas” por Deus e assim autorizadas a desafiar a pandemia.

Elas não estão em casa.

Bolsonaro é referência para tais condutas e na conta de sua responsabilidade o Brasil está segurando um cabo de guerra entre a consciência e o fanatismo religioso, e o único possível beneficiado com isto será o coronavírus.

Eis a importância de compreendermos as influências da política partidária na história de um povo. Desistir de melhorar o cenário político é a mesma coisa que desistir do país, do estado, do município.

Se para os fanáticos o coronavírus é um castigo de Deus e só afetará os “perdidos”, para nossa análise a responsabilidade maior com as dores desta hora pertence ao poder político. Desde o abandono dos sistemas de saúde pública, ao extermínio da dignidade dos povos mantendo-os à margem da cidadania. Infelizmente, todos já estamos afetados de algum modo por esta epidemia, mas ainda passaremos por dolorosa triagem quando o contágio sair de controle e não pudermos ser assistidos nos hospitais sem estrutura.

Sem a intervenção maciça do Estado a “consciência” não se mostra suficiente para esta batalha de vida ou morte.

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