Corrupção e falta de planejamento não ajudam a aumentar Ideb em Alagoas

Com o pior resultado no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), Alagoas enfrenta uma crise na educação que atinge 10 mil alunos. Eles estão sem aulas porque as reformas das escolas atrasaram ou as construtoras abandonaram os projetos. O Governo quer aulas aos sábados, acelerar as reformas e fazer concurso para suprir a carência da rede estadual de ensino.

Na escola Rosalvo Lôbo, no bairro da Jatiúca, em Maceió, os 780 alunos começam o ano letivo de 2012 na próxima segunda-feira, embaixo de tendas climatizadas. Elas serão instaladas no pátio da escola Théo Brandão- a um quilomêtro da Rosalvo Lôbo .

– As obras começaram e depois pararam. O teto da sala de informática caiu aí descobriram que todo o teto estava comprometido pelo cupim, disse uma professora, sem querer se identificar.

As reformas na Rosalvo Lôbo devem acabar em fevereiro de 2013. Em maio do ano passado, o teto da sala de informática caiu. A escola continuou a funcionar. Em 15 de agosto de 2011, um funcionário foi assassinado com um tiro ao tentar impedir um jovem- que perseguia outro- de invadir a escola. Ele morreu dias depois.

No Centro Educacional Antônio Gomes de Barros (Ceagb), o maior de Alagoas do setor público, as reformas em algumas escolas foram suspensas na quinta-feira, 17. Os trabalhadores estão sem receber os salários.

Com o pior resultado do Brasil no Ideb, Alagoas enfrenta uma crise na educação que se arrasta desde o ano passado, no anúncio da reforma emergencial de 163 escolas. O Ministério Público Estadual abriu investigação e constatou superfaturamento nas obras e outras 20 irregularidades. A Secretaria Estadual de Educação e Esportes sempre negou o problema e acusou o MP de “perseguição política”.

O MP pediu abertura de ação por improbidade administrativa contra o secretário de Educação e Esportes, Adriano Soares. O caso está na Justiça.

Segundo a assessoria de comunicação da secretaria, houve atraso nas obras porque a empresa inicialmente contratada não cumpriu com os prazos. Monitores estão sendo contratados e até o final do ano o Governo abre concurso para professores.

Das 163 escolas em reformas, 34 escolas na capital e no interior ainda continuam em obras. Em 19 delas, o ano letivo não começou.

De acordo com o Ministério Pùblico Estadual, 10 mil alunos estão fora das salas de aula por causa dos atrasos. E a situação, diz a promotora Cecília Carnaúba, acaba inflando um outro indice: o da violência:

– Ao negar-lhes o direito à escola de forma regular e ininterrupta, o Estado os expõe à violência decorrente da ação de delinquentes, pois estão desocupados nas ruas, sujeitos à ação de criminosos. Mas, sobretudo, a interrupção da prestação do serviço de educação lhes impõe a ignorância como legado, uma vez que impede o acesso aos meios de desenvolvimento de suas potencialidades, diz a promotora.

Em Alagoas, a cada 10 pessoas, quatro são analfabetas, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É o maior percentual do Brasil. O Estado também lidera os índices de homicídios entre jovens e crianças, no País.

E nos últimos dez anos, Alagoas registrou 11 operações da Polícia Federal- a maioria para apurar desvios na área da Educação. O caso mais notório é o do prefeito afastado da cidade de Traipu, no sertão alagoano, Marcos Santos (PTB): ele foi preso cinco vezes, em operações diferentes, da PF. Todas por desvios na educação. Ao todo, R$ 15 milhões desviados. Sete em cada dez traipuenses não sabem ler ou escrever.

– É um quadro geral de impunidade. Os governantes de Alagoas mostram que a máquina pública serve unicamente para si mesmos. Os filhos deles estudam fora do Estado. O dinheiro desviado, segundo apontam algumas investigações, ajuda a comprar votos. Qual o motivo para se quebrar uma lógica, se ela funciona para alguns e mantem uma multidão sem acesso a escola ou a merenda?, pergunta a cientista social e educadora Ana Cláudia Laurindo.

– Deixar alunos sem qualificação, em pleno século XXI, é um crime histórico. Alagoas sequer chegou ao novo século. Nossos índices parecem os de um país europeu do século XVIII. Ou sequer deixamos a Idade Média, analisou Laurindo.

– Nos últimos governos não tivemos uma continuidade de políticas na Educação. As reformas não são planejadas ou quando vemos as reformas e o tempo parado, estranhamos. Uma escola ficou parada para uma reforma. Eles lixaram as paredes para pintar. E mesmo assim atrasou porque faltava lixa. E os valores eram imensos, disse a professora da Universidade Estadual da Educação e conselheira municipal da Educação, Sandra Regina Paz.

– São lançados um programa em cima do outro para a Educação. Neste ritmo, difícil dizer quando Alagoas terá ‘nota azul’ no Ideb, finaliza Paz.

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