Cordões umbilicais são descartados por armazenamento irregular em Pernambuco

JC Online
Quase dois mil cordões umbilicais coletados pelo Instituto de Hematologia do Nordeste (Ihene), na Boa Vista, área Central do Recife, terão que ser descartados nos próximos dias por terem sido armazenados em temperaturas irregulares. O descarte foi determinado pela Agência Pernambucana de Vigilância Sanitária (Apevisa), a partir de uma denúncia feita nas redes sociais e por uma ex-funcionária do instituto, que chegou ao conhecimento tanto do órgão estadual como das Promotorias de Defesa da Saúde e do Consumidor do Ministério Público de Pernambuco (MPPE). O armazenamento irregular teria se dado ainda em outubro do ano passado e a interdição do Banco de Sangue de Cordão Umbilical e Placentário para Uso Autólogo (BSCUPA) do IHENE pela Apevisa aconteceu no dia 11 de novembro.

Segundo a agência, as 1.843 células progenitoras hematopoéticas (CPH) do cordão umbilical e placentário teriam sido armazenadas em tanque de nitrogênio líquido em temperatura acima de –150 graus Celsius, no período de 13 de maio a 23 de outubro de 2015, o que é considerado irregular. O armazenamento deve ser, sempre, abaixo dessa temperatura. O problema mais grave, também segundo a Apevisa, teria sido a descoberta do armazenamento com temperaturas positivas observadas entre os dias 10 e 23 de outubro do ano passado. A Vigilância Sanitária também teria detectado que o principal agente usado para congelar as células (Dimetilsulfóxido –DMO) é altamente tóxico para o material, se deixado em temperatura ambiente.

Nesta terça-feira (1/3) foi publicada a portaria 001/2016 determinando a pena de inutilização dos cordões umbilicais, assinada pelo diretor-geral da agência, Jaime Brito de Azevedo. A decisão da agência atende à mesma recomendação feita pelo MPPE. As duas instituições concluíram que as bolsas não possuem a qualidade e segurança requeridas ao uso terapêutico, devendo ser descartadas. A situação também foi avaliada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) por meio de parecer emitido pela Gerência de Sangue, Tecidos, Células e Órgãos, onde conclui que “o desvio de qualidade identificado representa risco, agravo ou consequência grave à saúde dos pacientes que receberiam esse material, podendo levar inclusive ao óbito.”

As inspeções feitas pela Apevisa ao Banco de Sangue de Cordão Umbilical e Placentário do IHENE aconteceram nos dias 9, 10, 13 e 20 de novembro de 2015. Segundo a promotora de Defesa da Saúde, Ivana Botelho, não se tem notícias de que, no período entre o aumento de temperatura e a interdição do banco, tenham sido coletados ou retirados cordões umbilicais da unidade. “A interdição foi feita de imediato, assim que a denúncia de um possível descongelamento dos cordões armazenados foi comprovada. A publicação da portaria se deu somente agora porque foi o tempo necessário do trâmite do processo de investigação, mas o banco está interditado desde novembro”, explicou a promotora de Justiça.

À TV Globo, o diretor-geral do Instituto de Hematologia do Nordeste (Ihene), Clemente Tagliari, afirmou, no início da manhã desta quarta-feira (2), ter ficado surpreso com a divulgação da portaria da Apevisa. Disse ter sido informado pela reportagem e ainda não ter sido notificado oficialmente sobre a determinação de inutilizar as células de cordão umbilical congelados. O JC Online entrou em contato com a assessoria de imprensa do IHENE, mas não teve retorno.

.