Dados extraoficiais indicam que 30% dos militares estão fora das ruas. Foto: Defesa Social
Odilon Rios
reporternordeste.com.br
A quantidade de políciais militares cedidos aos poderes vai entrar na pauta do Conselho Estadual de Segurança nos próximos dias. A informação é do procurador Geral substituto, Sérgio Jucá.
A proposta é saber se existe uma quantidade exagerada de PMs em poderes como Assembleia Legislativa, Tribunal de Contas e o Executivo. O assunto já foi discutido há dois anos pelo Conselho.
Conforme revelou o reporternordeste.com.br, em 2012, somente o Gabinete Militar do governador vai custar R$ 19,2 milhões- contra R$ 14,9 milhões pagos este ano.
Comparando Alagoas- o segundo menor estado do Brasil- com Sergipe- o menor- o gabinete militar do governador Marcelo Déda (PT) tem 115 homens, mas para servir ao governador, ao vice, a primeira dama, além de três palácios do Governo. E o Orçamento está dentro da Secretaria da Casa Civil- que custou, este ano, R$ 15,6 milhões.
Os números equivalem a 3,7% do orçamento para a segurança- nas polícias civil e militar. São R$ 513,6 milhões.
“Esse assunto nos preocupa e vai estar na pauta do Conselho de Segurança nos próximos dias”, disse Jucá. Ele evitou dar uma opinião, antes da reunião do Conselho.
Dados extraoficiais indicam que 30% do efetivo militar do Estado está cedido a poderes. São PMs que servem cafezinho, fazem a vigilância nos poderes ou abrem e fecham portas para autoridades- ao invés de estarem nas ruas.
Apenas para a segurança do governador Teotonio Vilela Filho (PSDB) são 130 militares.
Pão de Açúcar tem 25 mil habitantes e apenas dois policiais militares.
O Comando da corporação funciona na delegacia da cidade porque não existe uma estrutura própria.
O juiz de Pão de Açúcar, Galdino Vasconcelos, reclama da situação.
“Não temos uma polícia, mas uma brincadeira. Estamos brincando de fazer segurança”, disse.
A região era rondada, há 100 anos, pelo bando de Lampião. Ele atacava as cidades porque havia uma quantidade pequena de policiais fazendo a segurança.
“Eram dois naquela época. E permanece assim até hoje. E o crime se sofistica, o rio São Francisco margeia a cidade, é rota do tráfico e de fugitivos tanto de Alagoas quanto de Sergipe, do outro lado do rio. Precisaríamos de 20 policiais- dez vezes mais que os números de hoje. Daríamos tranquilidade às pessoas”, disse o magistrado, reclamando que outras cidades sertanejas têm a mesma quantidade de PMs nas ruas: 2.
Líder nacional na quantidade de assassinatos, Alagoas tem pouco mais de sete mil PMs. O Governo diz que o ideal seriam 16 mil- mas reclama da falta de dinheiro para realizar concurso público.
Outro lado
Ouvido pela reportagem, o chefe do Gabinete Militar admite que nem todos estão nas ruas com o governador:
“Alguns fazem atividades internas, outras burocráticas. Há um estudo parte destes militares volte ao quartel- para ajudar nas ruas- e outras atividades, como a segurança da sede do Governo, seja terceirizada por empresa de segurança, como acontece na Polícia Federal”, disse o coronel Ronaldo dos Santos.
“Há uma proposta para que 800 militares da reserva voltem ao trabalho. Há uma avaliação jurídica nesse sentido. O próprio governador quer a diminuição de PMs em seu gabinete”, disse o coronel.
Pelos dados do Ministério da Justiça, Alagoas registra 60 mortes a cada 100 mil habitantes- o maior percentual do Brasil. É comparada, pela Organização das Nações Unidas (ONU), a Honduras- país devastado por um terremoto e um dos mais miseráveis do mundo.
Na semana passada, a ONU fez um levantamento sobre a quantidade de homicídios no mundo e apontou o Brasil como o terceiro- na América Latina- com maior número de homicídios. A cada 100 mil, 23 são mortas.