A quem tem sido útil desacreditar os saberes científicos e os valores comunitários?
A existência do pensamento crítico é indispensável para organizar referências em um mundo disputado em milímetros por alguma intenção de poder remunerado.
Estamos todos envolvidos com os sistemas que direcionam os rumos da vida no planeta, ainda que sob a temporalidade da matéria e as vulnerabilidades causadas pelo desenvolvimento veloz e complexo dos turbilhões demográficos, atuamos como individualidades somadas. Nesta perspectiva, não nos cabe abrir mão de nós mesmos porque não é possível transferir a satisfação das necessidades localizadas.
Os ataques sistemáticos à memória, tradições, costumes que costuram identidades em torno de saberes empíricos ancestrais, são sinais de que existe uma intenção de uniformizar o mundo através das novas gerações, privando-as de conhecer suas ancestralidades, porque a força que nos trouxe ao presente deixou dicas no passado.
A ciência como vanguarda também traz inúmeras respostas, explicando a razão daquilo que o fenomênico apenas mostra, mas não disseca, não aponta causas. Principalmente na alçada das Ciências Sociais.
O eco sombrio da ignorância não ignora a força transformadora da razão, e movimentos importantes, ainda que merecedores de crítica, como tudo o que desponta na história humano/política, o positivismo, o iluminismo e as lutas socialistas, combateram a hegemonia autoritária e dogmática do poder absoluto sobre a ideia e a ocupação de territórios decisivos.
A política e a cultura são alimentos mantenedores da vida social humana.
Mas a qualidade das políticas aplicadas e da cultura disseminada faz essa vida minguar ou evoluir socialmente rumo ao bem ou mal-estar no mundo.
O mal-estar da maioria se transforma no luxo e na ostentação da minoria, que para justificar essa aberração criou parâmetros de justificativas, dentre os quais até a divindade criadora é utilizada como narrativa de manipulação, suavizando crenças rumo à submissão.
A comoção consumista desta era tecnológica não descarta a base condutora ideológica, como muitas vezes parece acontecer. Não há como materializar interesses sem convocar a subjetividade, ainda que para isso se utilize a força, a mentira, a perversão e a morte.
O poder não tem alma mas tem inteligência. Diluído nos territórios da reprodução econômica e na relações estabelecidas, arranha corpos e transtorna mentes, mas realiza seus intentos de dominação, sem perder o ritmo da performance.
Ainda assim, a fatalidade pode ser enfrentada e redirecionada pela resistência humano/política desencadeada pelos saberes, que são vastos legados de sobrevivência baseados em evidências, apontando o caminho.
Conhecer para combater, libertar, construir contra-cultura e conquistar direitos de benefício coletivo é uma motivação basilar. Até mesmo as concessões que nos obrigam a fazer podem servir de mote para recomeçar quantas vezes se torne necessário. A pauta proibida se chama desistir.
Enquanto for possível semear, a ideia libertadora fortalecerá o impulso transgressor rumo ao saber científico, sob a proteção da identidade comum, ancestral.
Ninguém é menos importante e todos somos necessários.
Já abriu um bom livro hoje?
Já saudou seus ancestrais?
Já percebeu sua própria importância neste processo?