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Collor ganha um final com cara de impeachment

Ao votar contra a condenação de Fernando Collor no processo da Lava Jato, o ministro Gilmar Mendes citou que as acusações contra o ex-senador se baseiam em “relatos ou documentos unilaterais dos delatores Youssef, Lopez e Pessoa” e “isso não basta para condenar um réu”.

Se as condenações na Lava Jato estão sendo anuladas (ou novamente analisadas) por que Collor foi condenado?

Jair Bolsonaro ergueu Collor como um troféu. E o então senador, paparicado, agia de forma incomum, como em Maceió, ao puxar o famoso coro, em junho do ano passado, “Bolsonaro, Bolsonaro”.

Admitido ao clube do bolsonarismo, Collor entrava em uma guerra do tudo ou nada. Nada teria se Lula ganhasse as eleições. E foi atrás do tudo, as portas de Brasília escancaradas, com Bolsonaro.

Dizem que ele apostou na sua conhecida arrogância. Porém, o então senador não tinha alternativas: perderia a reeleição, não se elegeria deputado federal. Sobrariam o Governo de Alagoas ou uma vaga na Assembleia Legislativa.

Escolheu o Governo mas entrou perdendo e sabia disso. Não tinha o estofo eleitoral com prefeitos, vereadores, deputados. Maceió, o maior colégio eleitoral e onde passou um tempo como prefeito, não lhe daria os votos que precisava.

Mas existia a chance de Bolsonaro vencer Lula. Afinal desde que a reeleição passou a valer um presidente nunca perdeu um bis no Palácio. Foi assim com Fernando Henrique, Lula e Dilma.

Num cenário tão estreito, onde cada voto era precioso, Collor tinha razão na sua lógica: poderia ajudar a puxar gente para Bolsonaro.

O que talvez ele não sabia é que o processo da Lava Jato, aparentemente morto, reacenderia apenas alguns meses após a vitória de Lula e a volta de Renan Calheiros à ribalta.

Condenado e sob risco de prisão, seu futuro depende dos outros, como um dia dependeu de Bolsonaro. Um final com cara de impeachment.

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