Coaracy Fonseca: O vento forte na janela (para Zailton Sarmento)

Coaracy Fonseca

Hoje o vento bateu forte, brutal até, na janela do quarto de dormir. Haveria algum significado naquela estrondo? Era um vento de música a procura de ouvidos para lhes trazer alegria e felicidade.

Dizem, eu não sei, que quando os artistas passam viram música, pois feito de música é o próprio universo. Naquele estrondo inesperado senti algumas notas de cavaquinho afinado, alegrei-me, não sabia eu que batia na janela um arranjo sofisticado de Pedacinho do Céu.

Fui conferir em Yamandu Costa e o som era parecido, mas tinha uma maior cadência e harmonia, como se o cavaquinho estivesse sendo acariciado por dedos de anjo. Pois é. A relação dos gênios musicais com o instrumento não é comum, é um conúbio de amor e paz.

Corri rapidamente para auscultar aquele chorinho que me faz voar em imaginação e sentir o passageiro da vida. Nas obras e toques dos gênios instrumentais descobrimos que não somos nada, além de transeuntes orgulhosos e insatisfeitos.

Mas descobri que o estrondo foi um sopro de vida de um grande amigo que se foi, Zailton Sarmento, um músico de ouvido absoluto. Em tudo absoluto. Como absoluta será a nossa tristeza em sentir a sua falta entre nós, mesmo sabendo que sua nova morada é um Pedacinho do Céu.

Continue a tocar, meu amigo Zailton Sarmento, pois seu talento e sua música ressoará em nossos corações. Com a alegria e a advertência para aproveitarmos a vida, tão fugaz.

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